Hernan Bas, Fragile Moments (two DVD projections), 2003

187

Estou no hotel e tomo o pequeno almoço na sala. A meu lado está um poeta dinamarquês. Olho através da porta envidraçada que dá para um pequeno cais. Vejo surgir a proa dum enorme barco. Entra pela esquerda do meu campo de visão. Avança lentíssimo e sem qualquer ruído. Olho fascinada a aparição do enorme barco branco. Então dizem-me: vem da Finlândia, chega todos os dias às oito da manhã.

Ana Hatherly, 463 Tisanas

para a construção do poema 17

Gilles Peress,Belfast City Center,1972

Gilles Peress, Morning of Bobby Sands Death, Belfast, 1981

Egon Schiele, Self Portrait with Chinese Lantern Plant, 1912

(com graça e egon schiele na áustria)

Anders Krisár, Torso, 2014

Anders Krisár, M, 2008

Anders Krisár, The Birh of Us - Girl, 2006/07

My Life had Stood - a Loaded Gun

Emily Dickinson

Bill Brandt, Jean Dubuffet, 1960

506. A pergunta: «De onde veio aquilo ao poeta?» apenas se dirige ao «que». Do «como» ninguém se apercebe.

901. Nunca se vai mais longe do que quando já não se sabe para onde se vai.

Goethe, Máximas e Reflexões

Valery Shchekoldin, Moscovo, 1980

Louise Bourgeois, Art Is A Guaranty Of Sanity, 2000

Georges Braque no seu atelier, em 1955

Robert Doisneau, Trois Petits Enfants Blancs, 1971

O consolo para quem não tem abrigo
nunca vem em forma de tecto
mas da boca de desabrigados.

Judith Herzberg, O Que Resta do Dia

My dear, tudo isto me traz outras ideias,
finda a tristeza, corro para casa, não é espantoso,
os ventres das gaivotas mais altas no céu
reluzindo a um sol que há muito se pôs?

Judith Herzberg, O Que Resta do Dia

para a construção do poema 16

Robert Rauschenberg, Auto-retrato, c.1950

Décimo segundo

Querida Sophia, restituo hoje
o oceano por ti engenhado. O
Atlântico escrito de gigante-despido
e diro… ou humilhado, e mínimo, como gente.
Algodoal num fio redondo ao fuso
que devolvo. Retorna hoje ao teu fumo
o extremo mar d’ocidente que em mim depositaste.

Frederico Mira George, Esteganographias, 2014

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Décimo nono
{«Cheguei hoje e fui até à casa onde morreste. Ainda lá está o Teixo. Fiquei uns minutos, solene, a imaginar-me.»}

Nunca desci à praia. Mas claro,
todos os dias entrevi o mar com fotográfica
religião; senti-lhe o contorno nas pálpebras
e d’Inverno chorava ponteiros-de-relógio
, inepto, sem consumar tamanho desejo d’areia.
¡Os poetas são sempre a encarnação do desacerto!

Frederico Mira George, Esteganographias/Aqui Começa o Atlas, 2014

CT, 2008