09 outubro, 2017

Hans Magnus Enzensberger

PARA UM LIVRO DE LEITURAS ESCOLARES

não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos. desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo o peito dos que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara.
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana. úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos. a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por 
aqueles que aprenderam muito

e são meticulosos, por ti.

Hans Magnus Enzensberger, em  Poesia do Século XX (trad. Jorge de Sena)




Andreas Bro, Hans Magnus Enzensberger

08 outubro, 2017

Frederico Mira George

é a última noite
ponho-me a observar a palma da mão esquerda
procuro nos tais sulcos da adivinhação do tempo
a hora certa
lá fora dispara o alarme de um carro
e a palma da minha mão é só planura

seja como for
adormecer
já não depende de mim.

Frederico Mira George, Caixa Negra (1ºvol)



Robert Mapplethorpe, Rose, 1984




06 outubro, 2017

Ellsworth Kelly

Ellsworth Kelly, Curve seen from a Highway, Austerlitz, 1970







04 outubro, 2017

Jorge Oteiza

Jorge Oteiza, Caja vacia con gran apertura, 1958

03 outubro, 2017

Francesca Woodman

Francesca Woodman, House#3, Providence, 1976



Francesca Woodman, from Angel Series, Rome,1977



Robert Motherwell

Robert Motherwell, Iberia, 1958

05 setembro, 2017

Francis Picabia

Francis Picabia,Sous les Oliviers, Coquetterie, 1948

04 setembro, 2017

Ellsworth Kelly

Ellsworth Kelly, Pine Branch and Shadow, Meschers, 1950


03 setembro, 2017

Ellsworth Kelly

Ellsworth Kelly, Hangar Doorway, Dt Barthélemy


Ellsworth Kelly, Highway Marker, Hudson, 1972


Ellsworth Kelly, Opening to a Cellar,Hudson, 1977

02 setembro, 2017

Cristina Campo

A atenção é o único caminho para o inexprimível.

Cristina Campo, Os Imperdoáveis

Giorgio Morandi











01 setembro, 2017

Family

CT, Family, agosto 2017

31 agosto, 2017

Carrie Mae Weems

Carrie Mae Weems, Blue Black Boy, 1997

























E para quem acredite em Deus, leiloaremos por fim, a radiografia do pirilampo. 

António Cabrita, 2017


21 agosto, 2017

Hypnos

Hypnos, a personificação grega do Sono ( British Museum)

20 agosto, 2017

Khalil Gibran

O Astrónomo

À sombra de um templo o meu melhor amigo e eu vimos um cego sentado e solitário.
O meu amigo disse:
- Olha que este é o homem mais sábio da nossa terra.
Então aproximei-me do cego, saudei-o e começámos a falar.
Pouco depois disse-lhe:
- Desculpa a pergunta, mas há quanto tempo estás cego?
Ele respondeu:
- Desde que nasci.
- E qual caminho da sabedoria escolheste?
- Sou astrónomo.
Em seguida levou a mão ao peito e acrescentou:
- Observo todos estes sóis, estas luas e estrelas.


Khalil Gibran, O Louco (versão de Ana Leal)

O Cão Sábio

Certo dia um cão sábio passou por um grupo de gatos e vendo que os gatos pareciam preocupados falando entre si, sem que dessem pela sua presença decidiu parar e escutar o que diziam. Levantou-se um gato (o maior) grave e sisudo que dirigindo-se aos outros disse: 
- Meus irmãos: rezai, porque se rezardes muito por certo choverão ratos.
O cão riu-se com os seus botões e seguiu o seu caminho: - Gatos cegos e insensatos. Por acaso está escrito e é um dado adquirido que o que chove quando rezamos não são ratos mas ossos?

Khalil Gibran, O Louco (versão de Ana Leal)

01 agosto, 2017

Agnes Martin



I don’t believe in influence. I think that in order to be an artist, you have to move. When you stop moving, then you’re no longer an artist. 


Agnes Martin

Agnes Martin, Gratitude, 2001

30 julho, 2017

William Eggleston

William Eggleston
(Maravilhoso fotógrafo. Hoje é para ti, JPS.)

26 julho, 2017

O relâmpago Herberto


Nunca se sabe aquilo que basta. Talvez baste um poema, uma coisa mínima, viva, nossa, uma coisa rub-reptícia para empunhar diante do implacável acordo das formas exteriores. Também pode ser que nada baste. E nesse caso tanto faz escrever um romance ou cem poemas ou apenas um poema, ou ler, ou emendar o céu astronómico, ou manter-se parado no meio de um jardim húmido e silencioso, à noite. Até pode suceder que a morte não seja bastante. E isto, sim, é interrogativo.

Herberto Helder,  em Relâmpago, Revista de Poesia 36/37, Abril/Outubro de 2015 (pág.133)







CT, Sleeping Golden Head, 2014

A bondade é lúcida, clara e decidida, impiedosa com o compromisso e com a política.


Tristan Tzara, Manifesto DADA, 1918