Aurélia de Souza, Jezabel devorada pelos cães, 1911 |
04 maio, 2018
25 abril, 2018
André Tecedeiro + Liberdade
ele perguntou-me
em que medida é que isso te marcou?
eu perguntei-lhe:
como se mede uma raiz?
André Tecedeiro, O Número de Strahler, ed. Do Lado Esquerdo.
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23 abril, 2018
22 abril, 2018
Paule Vézelay
21 abril, 2018
Estela e Heidi
(…)
que inveja,
penso eu
daqueles que só escrevem quando amam
que inveja,
penso eu
mas depois me arrependo
que inferno seria
só ser atravessada
quando algo respira.
Estela
Rosa in Oceânica
Heidi Kirkpatrick, Lost and Found |
UM CAROÇO DE ABÓBORA JAPONESA
Aprendi
que se você joga um saco de terra no
vaso
é incontrolável que surjam pequenas
folhas
plantas sem nome
diria minha mãe
é tudo mato
mas resolvi jogar terra em um vaso
e ali algumas sementes que iam pro lixo
não me preocupei
nada do que planto dá
não tenho interesse em fertilidades
mas aí brotou por entre o lixo
uma folhinha
puxei o mato
mas ele saía do caroço da abóbora
japonesa
do purê de semana passada
ela ali crescendo
orientalíssima em meu vaso de lixo
orgânico
minha última tentativa de gratidão
com o broto na mão
fiquei pensando nos mestres japoneses
e naqueles samurais de coquezinho
naquelas moças com pés cortados
sapatos de madeira
nos budas de porcelana
e aquela folha ali brotando
então é isso, não dá
não sei lidar com vidas pacientes
com essa folha japonesa
delicada rompendo o lixo
feito um hexagrama de i-ching
me ensinando a brotar
mas não dá
é poesia demais pra mim
logo eu que não sei meditar
Estela
Rosa (lida em Oceânica )
19 abril, 2018
17 abril, 2018
16 abril, 2018
15 abril, 2018
14 abril, 2018
F e H
Frederico Mira George, Digital Painting, 2011 |
Eu pergunto se o poeta cria as coisas, pergunto se as reconhece, ou então se as ordena.
Herberto Helder, Photomaton & Vox
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13 abril, 2018
12 abril, 2018
11 abril, 2018
Susana Marques
Susana Marques |
Esta força inóspita que me corrói de dentro e extravasa pelo mundo como uma calcinação.
Herberto Helder, Photomaton & Vox
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S
10 abril, 2018
09 abril, 2018
Agnes e Adélia
Agnes Deres, Body Prints and Philosophical Drawings and Map Projections, 1969 -1978 |
TODOS FAZEM UM POEMA A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Enquanto punha o vestido azul com margaridas amarelas
e esticava o cabelo para trás, a mulher falou alto:
é isto, eu tenho inveja de Carlos Drummond de Andrade
apesar de nossas extraordinárias semelhanças.
E decifrou o incômodo do seu existir junto com o dele.
Vamos ambos à enciclopédia, seguiu dizendo, à cata
de constituição, e paramos em "clematite, flor lilás
de ingênuo desenho que ama desabrochar nas sebes européias".
Temos terrores noturnos, diurnos desesperos
e dias seguidos onde nada acontece.
Comemos, bebemos e diante do nosso nome impresso
temos nenhum orgulho, porque esta lembrança não deixa:
uma vez, na Avenida Afonso Pena, um bêbado gritando:
"Todo o mundo aqui é um saco e tripas".
Carlos é gauche. A mim, várias vezes, disseram:
"Não sabes ler a placa? É CONTRAMÃO".
Um dia fizemos um verso tão perfeito,
que as pessoas começaram a rir. No entanto persiste,
a partir de mim, a raiva insopitada
quando citam seu nome, lhe dedicam versos,
que é uma pergunta só, nem ao menos original:
"Porque não nasci eu um simples vaga-lume?"
Só à ponta de fina faca, o quisto da minha inveja,
como aos mamões maduros se tiram os olhos podres.
Eu sou poeta? Eu sou?
Qualquer resposta verdadeira
e poderei amá-lo.
Adélia Prado, Com Licença Poética, Livros Cotovia
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