O homem não é senão um navio pesado, um pássaro pesado, sobre o abismo.
Sabemo-lo por experiência.
Sabemo-lo por experiência.
Cada “battibaleno” no-lo confirma. Batemos o olhar, como o pássaro a asa, para nos aguentarmos.
Ora no cimo da vaga, ora julgando afundar-nos.
Ora no cimo da vaga, ora julgando afundar-nos.
Eternos vagabundos, pelo menos enquanto em vida.
Mas o mundo está povoado de objectos. Nas suas margens, a sua multidão infinita, a sua colecção aparece-nos, é certo, sobretudo indistinta e fluida.
Contudo isso basta para nos tranquilizar. Porque, também por experiência o sabemos, cada um deles, à nossa vontade, um de cada vez, pode tornar-se o nosso ponto de ancoragem, o marco em que nos apoiarmos.
Basta que ele pese.
Mais do que para o nosso olhar, é então coisa para a nossa mão, - que ela saiba prosseguir a manobra.
Francis Ponge,Alguns Poemas, selecção, organização e tradução Manuel Gusmão, Cotovia
Cristina Tavares, Old Mimosa, fevereiro 2019 |