Maurice de Vlaminck, 1904 |
04 setembro, 2019
18 agosto, 2019
Konstandinos Kavafis
À ESPERA DOS BÁRBAROS
O que esperamos nós em
multidão no Fórum?
Os Bárbaros, que
chegam hoje.
Dentro do Senado,
porquê tanta inacção?
Se não estão
legislando, que fazem lá dentro os senadores?
É que os Bárbaros
chegam hoje.
Que leis haveriam de fazer
agora os senadores?
Os Bárbaros, quando
vierem, ditarão as leis.
Porque é que o
Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade
está sentado,
no seu trono, com toda
a pompa, de coroa na cabeça?
Porque os Bárbaros
chegam hoje.
E o Imperador está à
espera do seu Chefe
para recebê-lo. E até
já preparou
um discurso de
boas-vindas, em que pôs,
dirigidos a ele, toda
a casta de títulos.
E porque saíram os
dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga
vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam
braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de
anéis de esmeraldas magníficas?
E porque levavam hoje
os preciosos bastões,
com pegas de prata e
as pontas de ouro em filigrana?
Porque os Bárbaros
chegam hoje,
e coisas dessas
maravilham os Bárbaros.
E porque não vieram
hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para
dizer o que eles sabem dizer?
Porque os Bárbaros é
hoje que aparecem,
e aborrecem-se com
eloquências e retóricas.
Porque, subitamente,
começa um mal-estar,
e esta confusão? Como
os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam
tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para
casa tão apreensivos?
Porque a noite caiu e
os Bárbaros não vieram.
E umas pessoas que
chegaram da fronteira
dizem que não há lá
sinal de Bárbaros.
E agora, que vai ser
de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma
espécie de solução.
Konstandinos Kavafis
03 agosto, 2019
James Baldwin
What I hope to convey? Well, joy, love, the passion to feel how our choices affect the world.
James Baldwin
James Baldwin
29 julho, 2019
Konstantinos Kavafis
Cristina Tavares, TONDOS, 2018 |
Claro que é parecido este pequeno
retrato dele, a lápis.
retrato dele, a lápis.
Feito num momento, no convés do barco,
numa tarde encantadora.
O mar da Jónia a rodear-nos.
numa tarde encantadora.
O mar da Jónia a rodear-nos.
Parece-se com ele. Não era ele mais belo?
Sensível era a ponto de sofrer -
o que seu rosto iluminava.
Mais belo me aparece, agora que,
fora do Tempo, eu o recordo n'alma.
Sensível era a ponto de sofrer -
o que seu rosto iluminava.
Mais belo me aparece, agora que,
fora do Tempo, eu o recordo n'alma.
Fora do Tempo. Tudo isto é muito antigo -
o desenho, e o navio, e o entardecer.
o desenho, e o navio, e o entardecer.
Konstantinos Kavafis [1919]
Etiquetas:
Cristina Tavares,
Konstandinos Kavafis,
poesia
26 julho, 2019
Gabriela e Edward
23 julho, 2019
22 julho, 2019
Jean Arp
Jean Arp, Larmes d'Enak. Formes terrestres, 1917 |
To be full of joy when looking at an oeuvre is not a little thing.
Jean (Hans) Arp
18 julho, 2019
17 julho, 2019
16 julho, 2019
magic darkness
The film medium is some sort of magic. I think also it's a magic that every frame comes and stands still for a fraction of a second and then it darkens. A half part of the time when you see a picture you sit in complete darkness. Isn't that fascinating? That is magic.
Ingmar Bergman (foto da Fundação Ingmar Bergman) |
Luiza Neto Jorge
A língua
que é líquido
sacro
não transborda
Um dedo
que tocou
a palavra
não a aborda
Luiza Neto Jorge, Terra Imóvel
que é líquido
sacro
não transborda
Um dedo
que tocou
a palavra
não a aborda
Luiza Neto Jorge, Terra Imóvel
Etiquetas:
Elas,
Luíza Neto Jorge,
poesia,
poesia portuguesa
15 julho, 2019
13 julho, 2019
Luís Miguel Nava
Rogier Van Der Weyden, Deposição da Cruz (detalhe), 1436 |
As mãos são de qualquer corpo a coroa.
Luís Miguel Nava, no poema Ao Mínimo Clarão
Etiquetas:
Luís Miguel Nava,
poesia,
poesia portuguesa,
R
Mario Benedetti (defender a alegria)
Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
defender a alegria como um princípio
defendê-la do pasmo e dos pesadelos
dos neutrais e dos neutrões
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingénuos e dos canalhas
da retórica e das paragens cardíacas
das endemias e das academias
defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e da angústia
da obrigação de estarmos alegres
defender a alegria como uma certeza
defendê-la da ferrugem e da sarna
da famosa pátina do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso
defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos apelidos e das lástimas
do acaso
e também da alegria.
Mario Benedetti, em Lacre (traduções e versões de Vasco Gato)
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
defender a alegria como um princípio
defendê-la do pasmo e dos pesadelos
dos neutrais e dos neutrões
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos
defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingénuos e dos canalhas
da retórica e das paragens cardíacas
das endemias e das academias
defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e da angústia
da obrigação de estarmos alegres
defender a alegria como uma certeza
defendê-la da ferrugem e da sarna
da famosa pátina do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso
defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos apelidos e das lástimas
do acaso
e também da alegria.
Mario Benedetti, em Lacre (traduções e versões de Vasco Gato)
Assinar:
Postagens (Atom)