07 fevereiro, 2020
06 fevereiro, 2020
05 fevereiro, 2020
Henri Matisse (cartão e vitral)
04 fevereiro, 2020
Zygmunt Bauman
A nossa sociedade engendra novos medos. Porque a modernidade, que se tornou «líquida», fez triunfar a perpétua incerteza: a busca de sentido e de referências estáveis foi substituída pela obsessão da mudança e da flexibilidade. O culto do efémero e os projectos a curto prazo favorecem o reinado da concorrência em detrimento da solidariedade e transformam os cidadãos em caçadores ou, pior ainda, em presas. Assim, o presente líquido segrega indivíduos medrosos, habitados pelo receio da insegurança.»
Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida
03 fevereiro, 2020
02 fevereiro, 2020
01 fevereiro, 2020
31 janeiro, 2020
30 janeiro, 2020
Teresa Amy
POEMA 20
entendi perfeitamente
algum tempo depois, que não sabia
trabalhar o corpo
do texto, nem buscar a espessura
das palavras, nem ser possuído
pelo murmúrio das folhas nem
pela melhor
música inglesa dos anos 70;
entendi que não devia incomodar-me
por não assemelhar-me em nada com Scott Fritzgerald, e
razoavelmente pensei que não devia
incomodar-me por eu (também)
querer ser um farol para
ter, pelo menos, navios
que me mirem
mesmo que nada ilumine:
é um caminho pleno de desastres, des-
astrado,
expliquei
entendi perfeitamente
algum tempo depois, que não sabia
trabalhar o corpo
do texto, nem buscar a espessura
das palavras, nem ser possuído
pelo murmúrio das folhas nem
pela melhor
música inglesa dos anos 70;
entendi que não devia incomodar-me
por não assemelhar-me em nada com Scott Fritzgerald, e
razoavelmente pensei que não devia
incomodar-me por eu (também)
querer ser um farol para
ter, pelo menos, navios
que me mirem
mesmo que nada ilumine:
é um caminho pleno de desastres, des-
astrado,
expliquei
Teresa Amy ( tradução de António Miranda)
Teresa Amy , Uruguay (1950-2017) |
Manuel Resende (1948-2020)
SAI DE CASA
E depois espalha os bocados
Pelo vasto mundo.
Ou então na tua rua, vai à aldeia, à praia,
Atira-o ao mar, deita-o ao lixo,
Para que venha o vento, o sol, a chuva, os homens do lixo,
Acabar com ele de vez.
Passado um dia,
Sai de casa e procura
Encontrá-lo de novo.
Manuel Resende, O Mundo Clamoroso, Ainda
Etiquetas:
Manuel Resende,
poesia,
poesia portuguesa
27 janeiro, 2020
26 janeiro, 2020
25 janeiro, 2020
Lu Lizhi
Engoli uma lua de ferro,
disseram-me que era um parafuso.
Engoli resíduos industriais e fichas de desemprego,
jovens que morreram debruçados sobre máquinas,
engoli trabalho, engoli pobreza
engoli as pontes dos peões e uma vida enferrujada.
Não consigo engolir mais nada
porque tudo o que engulo me volta à boca
e verte para o chão da pátria:
um poema feito de vergonha.
---
Um parafuso caiu no chão
nas horas extra desta noite escura.
Caiu verticalmente, tinindo ao de leve:
ninguém notou,
tal como da última vez,
numa noite como esta
quando alguém tombou no vazio.
---
Dizem que sou
uma criança de poucas palavras.
Não o nego
mas,
fale ou não,
nesta sociedade,
estou sempre em conflito.
---
Um espaço de dez metros quadrados
apertado, húmido, escuro todo o ano:
é aqui que como, durmo, cago e penso
tusso, tenho enxaquecas, envelheço, fico doente e ainda assim não morro.
Sob esta pálida luz amarela cá estou a fixar o olhar no vazio, a rir-me
como um parvo ando para trás e para a frente, canto baixinho, leio, escrevo poemas.
Sempre que abro uma janela ou uma porta
pareço um morto
a puxar lentamente a tampa do caixão.
Lu Lizhi (trad. Sara F. Costa)
disseram-me que era um parafuso.
Engoli resíduos industriais e fichas de desemprego,
jovens que morreram debruçados sobre máquinas,
engoli trabalho, engoli pobreza
engoli as pontes dos peões e uma vida enferrujada.
Não consigo engolir mais nada
porque tudo o que engulo me volta à boca
e verte para o chão da pátria:
um poema feito de vergonha.
---
Um parafuso caiu no chão
nas horas extra desta noite escura.
Caiu verticalmente, tinindo ao de leve:
ninguém notou,
tal como da última vez,
numa noite como esta
quando alguém tombou no vazio.
---
Dizem que sou
uma criança de poucas palavras.
Não o nego
mas,
fale ou não,
nesta sociedade,
estou sempre em conflito.
---
Um espaço de dez metros quadrados
apertado, húmido, escuro todo o ano:
é aqui que como, durmo, cago e penso
tusso, tenho enxaquecas, envelheço, fico doente e ainda assim não morro.
Sob esta pálida luz amarela cá estou a fixar o olhar no vazio, a rir-me
como um parvo ando para trás e para a frente, canto baixinho, leio, escrevo poemas.
Sempre que abro uma janela ou uma porta
pareço um morto
a puxar lentamente a tampa do caixão.
Lu Lizhi (trad. Sara F. Costa)
24 janeiro, 2020
23 janeiro, 2020
20 janeiro, 2020
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