Francisco Tropa, Quad, 2008
30 outubro, 2017
29 outubro, 2017
sobe uma figura
Um avião aterrava
no meu terror, começar
por haver deus
e depois nem um irmão
com quem trocar canivetes, lâminas.
Mas olha bem no escuro
ao lado de cada verso
sobe uma figura.
Helder Moura Pereira, Mercúrio, 1987
no meu terror, começar
por haver deus
e depois nem um irmão
com quem trocar canivetes, lâminas.
Mas olha bem no escuro
ao lado de cada verso
sobe uma figura.
Helder Moura Pereira, Mercúrio, 1987
Sjaak Kempe, Paul Cézanne'studio |
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27 outubro, 2017
Helder Moura Pereira
Francisco Tropa,Terra Platonica, 2013 |
As emoções deste lado
não são iguais
às emoções daquele
lado, só parecem.
Faz ao contrário, põe
desenhos às palavras,
apaga o risco vertical do caderno.
Helder Moura Pereira, Mercúrio, 1987
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Robert Montgomery
To encounter the work of Robert Montgomery is to make a tender encounter whose tenderness is enhanced by the public, communal quality of his work. To encounter his work is to have your body filled with a sad thunder and your head filled with a sad light. He is a complete artist and works in language, light, paper, space. He engages completely with the urban world with a translucent poetry. His work arrives at us through a kind of lucid social violence. No one has blended language, form and light in such a direct way.
Black and Blue Literary Journal
26 outubro, 2017
25 outubro, 2017
24 outubro, 2017
no fundo do céu
Com o meu cavalo parado sob a árvore coberta de rolas, lanço um assobio tão puro, que não há uma única promessa feita às margens destes rios que eles não cumpram. (Folhas vivas na manhã são à imagem da glória)...
E não é só que um homem não esteja triste, mas levantando-se antes do dia e mantendo-se com prudência no convívio de uma velha árvore, apoiado pelo queixo à última estrela, vê em jejum no fundo do céu grandes coisas puras que dispõem ao prazer ...
Com o meu cavalo parado sob a árvore que arrulha, lanço um assobio mais puro. E paz àqueles que, se vão morrer, não chegaram a ver este dia. Mas do meu irmão, o poeta, tivemos notícia. Voltou a escrever uma coisa muito doce. E alguns dela tiveram conhecimento.
Saint-John Perse, Habitarei o Meu Nome (trad. João Moita)
E não é só que um homem não esteja triste, mas levantando-se antes do dia e mantendo-se com prudência no convívio de uma velha árvore, apoiado pelo queixo à última estrela, vê em jejum no fundo do céu grandes coisas puras que dispõem ao prazer ...
Com o meu cavalo parado sob a árvore que arrulha, lanço um assobio mais puro. E paz àqueles que, se vão morrer, não chegaram a ver este dia. Mas do meu irmão, o poeta, tivemos notícia. Voltou a escrever uma coisa muito doce. E alguns dela tiveram conhecimento.
Saint-John Perse, Habitarei o Meu Nome (trad. João Moita)
W. Eugene Smith, Dream Street, Pittsburg, 1955 |
22 outubro, 2017
20 outubro, 2017
19 outubro, 2017
18 outubro, 2017
16 outubro, 2017
Sophia
Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e me fita
Apenas sei que caminho como quem
É amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco
Sophia de Mello Breyner Andresen, Antologia (Círculo de Poesia, Moraes Editores, 1970)
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15 outubro, 2017
14 outubro, 2017
13 outubro, 2017
Helen Frankenthaler
12 outubro, 2017
Billy Collins
Enquanto a lebre corta a meta como um tiro,
a tartaruga pára uma vez mais
à beira da estrada,
desta vez para esticar o pescoço
e mordiscar um pouco de erva fresca,
ao contrário da anterior
quando se distraiu com uma abelha zunindo
no coração de uma flor selvagem.
Billy Collins, Amor Universal (trad. Ricardo Marques)
Billy Collins por ...? |
11 outubro, 2017
Billy Collins
Não muito tempo depois de nos termos sentado a jantar
numa longa mesa de um restaurante em Chicago
e de estarmos profundamente absortos nas pesadas ementas,
um de nós - um homem barbudo com uma gravata colorida -
perguntou se alguém já tinha considerado
aplicar os paradoxos de Zenão ao martírio de S. Sebastião.
As diferenças entre estas duas figuras
eram muito maiores do que as diferenças
entre o guisado de galinha e a truta com amêndoas
entre os quais estava a hesitar, por isso olhei para cima e fechei a ementa.
Se, continuou o homem da gravata,
um objecto que se move através do espaço
nunca vai chegar ao seu destino porque está sempre
limitado a cortar a distância até ao seu alvo a meio,
então verifica-se que S. Sebastião não morreu
das feridas inflingidas pelas setas:
a causa da morte foi o susto perante o espectáculo da sua aproximação.
S. Sebastião, de acordo com Zenão, teria morrido de um ataque cardíaco.
Acho que vou para a truta, disse ao empregado
pois já era a minha vez de pedir,
mas durante todo o elegante jantar
continuei a pensar nas setas perpetuamente a aproximarem-se
da carne pálida e trémula de S. Sebastião,
uma revoada delas perpetuamente reduzindo a metade as curtas distâncias
ao seu corpo, amarrado a um poste com uma corda,
mesmo após os arqueiros terem arrumado tudo e ido para casa.
E pensei na bala a nunca alcançar
a mulher de William Burroughs, uma maçã tremendo-lhe sobre a cabeça,
no ácido atirado a nunca chegar ao rosto daquela rapariga,
e no Oldsmobile a nunca lançar o meu cão para uma vala.
As teorias de Zenão flutuavam sobre a mesa
como balões de pensamento vindos do século V antes de Cristo,
e no entanto o garfo continuava a chegar à minha boca
para entregar pedaços de espargo e peixe com crosta,
e depois de comer e de brindar,
saímos do restaurante e despedimo-nos na rua
seguindo caminhos separados no mundo onde as coisas chegam mesmo a algum lado,
onde as pessoas normalmente chegam ao sítio ao qual se dirigem -
onde os comboios chegam à estação com uma nuvem de vapor,
onde os gansos agitam a superfície do lago ao aterrarem,
e a pessoa que tu amas atravessa a sala e chega aos teus braços -
e sim, onde flechas afiadas podem perfurar um tronco,
salpicando de sangue a virilha e os pés do santo,
esse tema tão popular na pintura religiosa europeia.
Um hagiógrafo comparou-o a um ouriço cravado de espinhos.
Billy Collins, Amor Universal (trad. Ricardo Marques)
09 outubro, 2017
Hans Magnus Enzensberger
PARA UM LIVRO DE LEITURAS ESCOLARES
não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos. desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo o peito dos que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara.
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana. úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos. a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito
e são meticulosos, por ti.
Hans Magnus Enzensberger, em Poesia do Século XX (trad. Jorge de Sena)
não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos. desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo o peito dos que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara.
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana. úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos. a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito
e são meticulosos, por ti.
Hans Magnus Enzensberger, em Poesia do Século XX (trad. Jorge de Sena)
Andreas Bro, Hans Magnus Enzensberger |
08 outubro, 2017
Frederico Mira George
é a última noite
ponho-me a observar a palma da mão esquerda
procuro nos tais sulcos da adivinhação do tempo
a hora certa
lá fora dispara o alarme de um carro
e a palma da minha mão é só planura
seja como for
adormecer
já não depende de mim.
Frederico Mira George, Caixa Negra (1ºvol)
ponho-me a observar a palma da mão esquerda
procuro nos tais sulcos da adivinhação do tempo
a hora certa
lá fora dispara o alarme de um carro
e a palma da minha mão é só planura
seja como for
adormecer
já não depende de mim.
Frederico Mira George, Caixa Negra (1ºvol)
Robert Mapplethorpe, Rose, 1984 |
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