04 fevereiro, 2007

pedir a um homem que nunca se distraia


Henryk Hermanowicz, "Mulher Com Olhos Fechados",1937

Sentir a justiça de um texto muito antes de ter compreendido o seu significado, graças àquele puro timbre que pertence apenas ao estilo mais nobre: o qual por sua vez nasce da justiça.
(...)
Não conheço poesia universal sem uma raiz bem precisa: uma fidelidade, um retorno.
(...)
na poesia, a imagem preexiste à ideia que passa por dentro dela. Durante anos ela pode seguir um poeta, doméstica e fabulosa, familiar e inquietante, com frequência uma imagem da primeira infância, o nome estranho de uma árvore, a insistência de um gesto. Espera com impaciência que a preencha a revelação.
(...)
A atenção é o único caminho para o inexprimível
(...)
Pedir a um homem que nunca se distraia, que se subtraia sem descanso ao equívoco da imaginação, à preguiça do hábito, à hipnose do costume, a sua faculdade de atenção, é pedir-lhe que actue na sua máxima força.
É pedir-lhe uma coisa próxima da santidade numa época que parece procurar apenas, com cega fúria e arrepiante sucesso, o divórcio total da mente humana em relação à sua faculdade de atenção.

Cristina Campo, “Os Imperdoáveis”

02 fevereiro, 2007


John Heartield, entre 1930-37

John Heartfield, entre 1930-37

01 fevereiro, 2007

caligrafia inexplicável

# 35
não sei se é real… fiquei
com a boca seca e isso distraiu-me.
chegámos a dizer adeus?se não o dissemos não o devemos
dizer agora. nunca devemos
dizer adeus
depois de crescerem cadáveres:
vasos dentro de nós.




# 34
qualquer coisa se desprendeu de mim.
alguma.
coisa. se. desprendeu
de mim. mas o quê?

Frederico Mira George, "Caligrafia Inexplicável", 2006

Marianne Brandt, "Tempo-Tempo", 1927

Marianne Brandt, "Circus", 1926

Marianne Brandt, S/título, 1929

Marianne Brandt, "The man Who Brings Death", 1928

Marianne Brandt


Marianne Brandt, "Auto-retrato",c.1930

30 janeiro, 2007

29 janeiro, 2007


Paul Stempen, "Cup of Coffee",1994

28 janeiro, 2007

As formas, as sombras, a luz que descobre a noite
e um pequeno pássaro

e depois longo tempo eu te perdi de vista
meus dois braços são espaços enormes
os meus olhos são duas garrafas de vento

e depois eu te conheço de novo numa rua isolada
minhas pernas são duas árvores floridas
os meus dedos uma plantação de sargaços

a tua figura era ao que me lembro
da cor do jardim.


António Maria Lisboa, "Poesia"

André Dérain, 1906

André Dérain,1906

26 janeiro, 2007


Ariel, lua de Urano

Irma Boom

Yves Klein,"Disque Bleu",1957

25 janeiro, 2007


autor não identificado,c.1848

J.B.Sabatier-Blot, "Retrato de jovem",1852