Sophie Tauber-Arp, Equilibre, 1931 |
07 fevereiro, 2016
06 fevereiro, 2016
05 fevereiro, 2016
04 fevereiro, 2016
Ana Hatherly, ainda
185
O parque. Atravesso a ponte sobre o lago. De repente um ruído pesado: um ganso atravessa a ponte voando sobre a minha cabeça. Assusto-me. Depois penso: meu Deus os gansos de Selma Lagerloff. A minha infância. A custo reprimo o desespero.
186
A Suécia. Vou a caminho dum jantar de cerimónia. O carro atravessa o bosque. Já é noite. Um gamo surge diante dos faróis. Corre um pouco depois salta para o lado. Pára a olhar-nos. Já dentro de casa olho através da janela. A neve ilumina todo o ar e mesmo o céu recebe o seu reflexo imenso.
Ana Hatherly, 463 tisanas, Quimera, 2006
Etiquetas:
Ana Hatherly,
Elas,
poesia,
poesia portuguesa
03 fevereiro, 2016
Ana Hatherly
400
405
Ana Hatherly, 463 tisanas, Quimera 2006
Varsóvia.Quantas árvores tem esta cidade! exclamo surpreendida. Mas logo me explicam: é que no lugar dos escombros da guerra, como não podíamos construir, plantámos árvores. Grande tesouro, respondo impressionada. Passeando pelo imenso parque penso: o tempo revela-esconde tudo de tudo.
405
O problema da visibilidade ou da invisibilidade é uma questão de luz. Quando eu era criança, ao levantar-me tinha começado as minhas orações dizendo: Louvada seja a luz do dia, louvado seja quem a cria. Num dia frio e escuro de Inverno enganei-me e disse: louvada seja a luz eléctrica...Não me deixaram continuar. Sabe-se lá o que iria eu dizer a seguir.
Ana Hatherly, 463 tisanas, Quimera 2006
Etiquetas:
Ana Hatherly,
Elas,
poesia,
poesia portuguesa
02 fevereiro, 2016
01 fevereiro, 2016
Manoel e Jopie
31 janeiro, 2016
O Guardador de Águas
Henriette Browne, A Nun (Mme Jules de Saux), 1850-70 (detalhe) |
Nas Metamorfoses, em duzentas e quarenta fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados em
pedras, vegetais, bichos, coisas.
pedras, vegetais, bichos, coisas.
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica,
edênica, inaugural -
edênica, inaugural -
Que os poetas aprenderiam - desde que voltassem às
crianças que foram
crianças que foram
As rãs que foram
As pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de
reaprender a errar a língua.
reaprender a errar a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma
nos mosquitos?
nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.
Manoel de Barros, O Guardador de Águas
Etiquetas:
Elas,
H,
Manoel de Barros,
oxigénio,
poesia
30 janeiro, 2016
Frederico e Saul
O
castanho infantil degradou-se com exposições
Solares
Exageradas.
E demasiadas leituras. E Caligrafias.
Creio
no pigmento dos olhos como demonstração
Matemática
do rigor extremo das horas pesadas.
Frederico Mira George, O Veneno Solitário
Etiquetas:
Frederico Mira George,
oxigénio,
poesia,
poesia portuguesa,
S
29 janeiro, 2016
28 janeiro, 2016
Igor Mitoraj
27 janeiro, 2016
26 janeiro, 2016
25 janeiro, 2016
Oh, Anni Albers
23 janeiro, 2016
Marlene e Marin
Marlene Dumas, Measuring Your Own Grave, 2008 |
Olha, as coisas
Estão cortadas ao meio,
De um lado elas
Do outro o seu nome.
Estão cortadas ao meio,
De um lado elas
Do outro o seu nome.
Há um vasto espaço entre elas,
Espaço para correr,
Para a vida.
Espaço para correr,
Para a vida.
Olha, tu estás cortado ao meio.
De um lado tu,
Do outro o teu nome.
De um lado tu,
Do outro o teu nome.
Não sentes às vezes ou no sonho
Ou à margem do sonho,
Que na tua fronte
Assentam outros pensamentos,
Sobre as tuas mãos
Outras mãos?
Ou à margem do sonho,
Que na tua fronte
Assentam outros pensamentos,
Sobre as tuas mãos
Outras mãos?
Só por um instante foste compreendido
Fazendo o teu nome
Atravessar o teu corpo,
De um modo sonoro e doloroso,
Como o badalo de bronze
Através do vazio do sino.
Fazendo o teu nome
Atravessar o teu corpo,
De um modo sonoro e doloroso,
Como o badalo de bronze
Através do vazio do sino.
Marin Sorescu (1936- 1996)
Etiquetas:
Elas,
M,
Marin Sorescu,
oxigénio,
poesia
22 janeiro, 2016
Carlos de Oliveira
Odilon Redon, Nature Morte 1905 |
Será da própria condição das coisas serem silenciosas agora?
Carlos de Oliveira, Terra de Harmonia
Etiquetas:
Carlos de Oliveira,
O,
oxigénio,
poesia,
poesia portuguesa
19 janeiro, 2016
18 janeiro, 2016
Rui Calçada Bastos
17 janeiro, 2016
o silêncio
15 janeiro, 2016
12 janeiro, 2016
Marina Abramovic e Michael Krüger
Marina Abramovic, The Kitchen (Homage to Saint Therese), 2009 |
Queríamos
surpreender a esperança
quando ela se descontrolasse:
no momento da revolta.
Preparámo-nos para uma grande viagem.
Resguardámo-nos
do frio e do calor.
O farnel
pesava-nos nos ombros:
História, educação,
a capacidade de suportar
o desespero, muita literatura.
Regressámos ontem.
Cansados,
como se pode imaginar,
e cheios de fome.
surpreender a esperança
quando ela se descontrolasse:
no momento da revolta.
Preparámo-nos para uma grande viagem.
Resguardámo-nos
do frio e do calor.
O farnel
pesava-nos nos ombros:
História, educação,
a capacidade de suportar
o desespero, muita literatura.
Regressámos ontem.
Cansados,
como se pode imaginar,
e cheios de fome.
As fotografias
ainda não foram reveladas.
Daremos a conhecer
os resultados.
ainda não foram reveladas.
Daremos a conhecer
os resultados.
De Costas
Para a Janela: Poesia Alemã Contemporânea I - Michael Krüger (trad. João Barrento)
Etiquetas:
Elas,
M,
Michael Krüger,
oxigénio,
poesia
10 janeiro, 2016
Joaquim e os sais de prata
A Fotografia
1 - Os seiscentos e tantos preceitos dos judeus
bastam para comprar a máquina fotográfica,
mas não podem carregar esse botão
onde o olhar escolhe como ver.
2 - Um dia havia um monte de lixo junto
das bocas de incêndio ciclame e ouro
onde os fumos soterrados de Manhattan
parecem inundar de música o inverno:
eu não tinha o vidro de amor da máquina
para interceder com a minha memória.
3 - Um cristão recolheu o lixo, fez um resto
para um pobrezinho, correu para uma reza solitária
entre algumas flores, um pequeno lago
e as nuvens com aves repousavam no sol.
Como os sais de prata nos deixam escutar.
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
1 - Os seiscentos e tantos preceitos dos judeus
bastam para comprar a máquina fotográfica,
mas não podem carregar esse botão
onde o olhar escolhe como ver.
2 - Um dia havia um monte de lixo junto
das bocas de incêndio ciclame e ouro
onde os fumos soterrados de Manhattan
parecem inundar de música o inverno:
eu não tinha o vidro de amor da máquina
para interceder com a minha memória.
3 - Um cristão recolheu o lixo, fez um resto
para um pobrezinho, correu para uma reza solitária
entre algumas flores, um pequeno lago
e as nuvens com aves repousavam no sol.
Como os sais de prata nos deixam escutar.
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
Etiquetas:
Joaquim Manuel Magalhães,
poesia,
poesia portuguesa
09 janeiro, 2016
Joaquim Manuel Magalhães
Aquela estrela, a sétima
a contar de ti, eras tu
de novo? A dos nomes
escritos na parede
onde rastejam quiméricos
os musgos? Nos telhados
sobre pátios nocturnos?
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
( para t., a propósito de estrelas )
a contar de ti, eras tu
de novo? A dos nomes
escritos na parede
onde rastejam quiméricos
os musgos? Nos telhados
sobre pátios nocturnos?
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
( para t., a propósito de estrelas )
Etiquetas:
Joaquim Manuel Magalhães,
poesia,
poesia portuguesa
08 janeiro, 2016
05 janeiro, 2016
04 janeiro, 2016
03 janeiro, 2016
inverno e verão
02 janeiro, 2016
Raul e William
Talvez eu consiga
mediante empregos
de secreta origem
Chegar à absoluta
fase da absoluta vertigem.
mediante empregos
de secreta origem
Chegar à absoluta
fase da absoluta vertigem.
Raul de Carvalho, Tampo Vazio
William Turner, Burning Ship, 1830 |
Etiquetas:
oxigénio,
poesia,
poesia portuguesa,
Raul de Carvalho,
W
01 janeiro, 2016
Car le bonheur
Assinar:
Postagens (Atom)