18 abril, 2017

nascer em desaparecimento

Edouard Vuillard, Au Théâtre, 1892



















É preciso a humildade para aceitar o humano: a sua condição primeira de que se nasce em desaparecimento. As imagens, a procura são o diálogo com esse desaparecimento.


Maria Gabriela Lhansol

15 abril, 2017

Alberto Carneiro (1937-2017)

Alberto Carneiro, 2013




















A natureza sonha nos meus olhos desde a infância. Quantas vezes adormeci entre as ervas? A minha primeira casa foi em cima da cerejeira que hoje é uma escultura. Entre o meu corpo e a terra houve sempre uma identidade profunda. A floresta ou a montanha que eu trabalho num tronco de árvore ou num bloco de pedra fazem parte integrante do meu ser.

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Uma nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos, através duma memória que tem a idade do homem. Não a pedra pelo seu lado externo, pela conversão dos seus valores formais, mas pelas qualidades do seu íntimo, pelo cosmos que está nela e o qual nos é dado possuir na simplicidade em que a coisa vive.


Alberto Carneiro

12 abril, 2017

Wrapped Trees

Christo & Jeanne-Claude, Wrapped Trees, 1997-98

06 abril, 2017

Jesús Jiménez Domínguez


Amamos as coisas redondas e pensamos
que vão ser eternas amáveis e perfeitas:
a toranja debaixo do rotundo sol de agosto,
a pulseira que orbita em volta do pulso,
a moeda com duas faces e nenhuma cruz,
a bola de praia em cujo interior que ainda se respira
um ar paciente de mil novecentos e oitenta e dois.

Há dias redondos em que tudo se encaixa
e a vida parece andar sobre rodas:
alguém, de lixa na mão, encarregou-se
de subtrair ao mundo todas as esquinas,
todas as arestas, todas as bordas.

Mas basta que atravesses um declive
ou que tudo se volte, de repente, para cima,
para verificar que são as coisas redondas
as primeiras a sair e a começar a correr:
a toranja, a pulseira, a moeda e a bola.

Eu recuso-me redondamente a aceitar tais desplantes.
Às formas esféricas eu oponho as coisas informes.
Escolho as imperfeitas, as imprecisas, as irregulares.
Aquelas cheias de defeitos, amolgadelas ou dobras.
Bonitas e originais, sem se sujeitarem a nenhum centro,
só elas permanecem e nos acompanham sempre.


Jesús Jiménez Domínguez, Ensinar o Eco a Cantar


04 abril, 2017

Lygia Clark

Lygia Clark, Sundial, 1960

03 abril, 2017

António Gonçalves Pedro

Learn how to see. Realize that everything connects to everything else.

Leonardo da Vinci


















02 abril, 2017

Kunié Sugiura

Kunié Sugiura, Market Front, 1978

Kunié Sugiura,Winter Branches, 1977-78
Kunié Sugiura,Yellow Floor, 1977

01 abril, 2017

Emile Bernard

Emile Bernard, Madeleine au Bois D'Amour, 1888

31 março, 2017

Samuel Joshua Beckett, Louie Fuller Dancing, c.1900

30 março, 2017

CT, Objectos do Céu Profundo, 2017

28 março, 2017

Lee Miller

Lee Miller,Viena de Áustria, 1945


Lee Miller, Nuremberga, 1945


Lee Miller,Colónia, 1945

27 março, 2017

José Pinto de Sá, Évora, 2017



























devolvo-te ao sonho
e à palavra
se é sonho
e se é palavra
o que desejas

devolvo-te
a ti mesmo
se acaso
te procuras

desvio a luz
para que olhando
vejas


Y.K.Centeno , Perto da Terra


26 março, 2017

Mbate Pedro

não esperar para além do esgar do papel
não esperar para além da fecundidade do não pedido
demorar as palavras na mão
fazer crescer qualquer coisa com três
metros e meio de altura e alguns centímetros
de comprimento
pacientar-se
deixar meio milímetro livre entre duas palavras
dois vírgula sete centímetros para
caberem as oito letras da angústia
ousar abrir o esporão das vírgulas
levantar os pontos de exclamação até à altura do
silêncio e da
eternidade
passear os olhos pelos quatro cantos do
papel como se lhe procurássemos a nudez disfarçada
de súbito
deixar cair os olhos
nesse espaço alegre entre duas linhas
contemplar
a brancura do papel como se ao amarrotá-lo
se soltassem as flores
ver despontarcomo caranguejos que o mar despreza –

a escrita circular e a consciência do encarcerado

Mbate Pedro, VácuosMoçambique, 2017

25 março, 2017

Seamus, ainda

Quando nada mais tiveres a dizer, conduz
Um dia inteiro contornando a península.
O céu tão alto como sobre uma pista,
A terra sem marcas que digam se chegamos,

Sempre a caminho, mas sempre aquém de avistar terra.
Ao sol-pôr, horizontes sorvem mar e colina,
O campo lavrado engole a branca empena
E estás de novo no escuro. Agora relembra

O brilho da areia, um tronco em silhueta,
Aquela rocha que esfarrapava as ondas,
Aves marinhas com pernas como andas,
Ilhas navegando por entre a névoa,

E regressas a casa sem nada p’ra dizer
A não ser que agora lerás qualquer paisagem
Assim: a nitidez das coisas em suas formas,
Água e terra definidas nos seus limites.


Seamus Heaney, Da Terra À Luz

24 março, 2017

Seamus

Geray Sweeney, Seamus Heaney com a sua filha Catherine
























Fantasma que vens farejar a madrugada,
Caminhante enfrentando a chuva pela noite,
Interroga-me de novo.

Seamus Heaney, Da Terra à Luz

Harry Callahan

Harry Callahan, Cape Cod, 1972

23 março, 2017

Christian Boltanski

Christian Boltanski, Hotel dos Imigrantes, Buenos Aires, 2012

21 março, 2017

Michaël e Anne

Michaël Borremans, The Wooden Skirt, 2011







































Tem cuidado com as palavras,
mesmo com as milagrosas


Anne Sexton