22 novembro, 2014

Lucian Freud, Autoretrato, c.1956

21 novembro, 2014

Edvard Munch, Encounter in Space, 1898

18 novembro, 2014

Kees van Dongen, Jeune Arab, 1910-11

17 novembro, 2014

Kasimir Malevitch, Black Circle, 1913-15

Kasimir Malevitch, Black Square, 1913-15

16 novembro, 2014

When it’s over, I want to say all my life
I was a bride married to amazement,
I was the bridegroom, taking the world into my arms.

When it’s over, I don’t want to wonder
if I have made of my life something particular, and real.
I don’t want to find myself sighing and frightened
or full of argument.

I don’t want to end up simply having visited this world.

Mary Oliver, New and Selected Poems

15 novembro, 2014

Károly Ferenczy, Madárdal (pormenor), 1893

14 novembro, 2014

Só o silêncio faz rumor no voo das borboletas.


Manoel de Barros, O Fazedor de Amanhecer

13 novembro, 2014

Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não uso das palavras
Fatigadas de informar.
Dou mais respeito
Às que vivem de barriga no chão
Tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou importância às coisas desimportantes
E aos seres desimportantes
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais do que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios
Amo os restos
Como boas moscas.
Queria que minha voz tivesse formato de canto
Porque não sou da informática
Eu sou da invencionática.
Só uso minhas palavras para compor meus silêncios.

Manoel de Barros, Memórias inventadas – As Infâncias 



Manoel de Barros (1916 - 2014)                                                          Poeta.


Helen Frankenthaler, Baccus, 2002

12 novembro, 2014

A fala quer-se árida, de uma aridez idêntica à da roupa que nos cobre ou à do céu, de que me esforço, sempre que dele falo, por deixar à mostra um dos agrafos mais profundos.

Luís Miguel Nava, Poesia Completa

11 novembro, 2014

A própria alma é elástica: podemos, assentando um dedo sobre a sua superfície e pressionando-a, levá-la a tocar nas coisas mais inesperadas.

Luís Miguel Nava, Poesia Completa


Willy Verginer, 2007

09 novembro, 2014

Gilbert &George, Crusade, 1980
     























    
   REALIZANDO UM FILME


   Estão a realizar um filme. Mas está tudo errado. Julgar-se-ia que o herói estaria triunfal no convés de um navio, mas pelo contrário está num cadafalso à espera de ser enforcado.
   Julgar-se-ia que a heroína estaria a beijar o herói no convés desse navio, mas pelo contrário está a ser amarrada para um tratamento de electrochoques.
   Multidões de camponeses que anseiam pela democracia, e supostamente estariam a celebrar a morte de um tirano, estão na realidade, a carregar esse mesmo tirano às costas, declarando-o o salvador do povo.
   O realizador não sabe onde está o erro. O produtor está muito abalado.
   O duplo pergunta repetidamente, agora? depois dá um salto e cai de cabeça.
   Entretanto uma manada de elefantes atropela o elenco principal;  e inundações fictícias estão de facto a inundar o palco.
   O duplo pergunta, repetidamente, agora? e dá um salto e cai de cabeça. 
 O realizador, coçando a cabeça, diz, talvez os electrochoques pudessem ser substituídos por insulina...?
   Tem a certeza? pergunta o produtor?
   Não, mas mesmo assim, podíamos tentar... E já  agora, esse duplo não é muito bom, pois não?


Russel Edson, O Túnel

08 novembro, 2014

Gabriel Orozco, Piñanona, 2013

06 novembro, 2014

luíza neto jorge


05 novembro, 2014

Não podendo falar para toda a terra
direi um segredo a um só ouvido

Luíza Neto Jorge, A Lume
Bruce Nauman, Untitled (Three Large Animals), 1989

04 novembro, 2014

Károly Ferenczy, Rapazes Atirando Seixos ao Rio,1890

02 novembro, 2014

Alberto Carneiro, Um campo depois da colheita para deleite estético do nosso corpo,
1973-76

Alberto Carneiro, Uma floresta para os teus sonhos, 1970

01 novembro, 2014

Uma nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos, através de uma memória que tem a idade do homem. Não a pedra pelo seu lado externo, pela conversão dos seus valores formais, mas pela qualidade do seu íntimo, pelo cosmos que está nela e o qual nos é dado possuir na simplicidade em que a coisa vive.

Alberto Carneiro, Notas para um manifesto de uma arte ecológica
Autoestrada 99E
desde Chico

Os patos-reais desceram
para a noite. Eles riem-se
ao dormir e sonham com o México
e as Honduras. O agrião
assenta na vala de irrigação
e os caules caem para a frente, com
o peso dos melros.

Os campos de arroz flutuam sob a Lua.
Até as folhas molhadas do ácer se agarram 
ao meu pára-brisas. Digo-te, Maryann,
estou feliz.

Raymond Carver, Fogos

31 outubro, 2014

Lucian Freud, Eli, 2002

Lucian Freud, Garden in Winter, 1999

30 outubro, 2014

José Augusto Castro
Há sempre um deus fantástico nas Casas
Em que eu vivo, e em volta dos meus passos
Eu sinto os grandes anjos cujas asas
Contêm todo o vento dos espaços.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947

29 outubro, 2014

Théodore Chassériau, Les Deux Soeurs, 1843
Si el espacio es infinito
estamos en cualquier punto del espacio.

J.L.Borges

28 outubro, 2014

Frantisek Kupka, Bather, 1906

26 outubro, 2014

Jean Tinguely, Baluba, 1961

25 outubro, 2014

#2

Quando alcançarem o cadáver em verossímil conserto
físico — ainda que informe de tamanho e difícil
reconhecença etária —, os físicos acusarão morte súbita. Súbita
como a passagem d’um segundo sem esforço.
Conquanto, no campo superior do papel d’óbito, o fenomenal
facto escrito do desfecho. Adentro do arcabouço
masculino, alojava-se belíssimo, um colossal coração invertido.
Frederico Mira George, O Veneno Solitário, 2014

24 outubro, 2014

Barbara Morgan, Martha Graham, Letter to the World (Kick),1940

23 outubro, 2014

Trata-se, sem dúvida, de factos de valor intrínseco pouco controlável, de carácter absolutamente inesperado, violentamente incidente, que pelo género de associações de ideias suspeitas que despertam constituem um modo de nos fazer entrar na teia de aranha, quer dizer, na coisa que seria a mais cintilante e graciosa do mundo se a um canto, ou nas imediações, não estivesse a aranha; de factos que, pertencendo embora à ordem da constatação pura, tomam sempre a aparência de um sinal desconhecido e me obrigam a descobrir, em plena solidão, inverosímeis cumplicidades, convencendo-me estar iludido todas as vezes que me julgo sozinho ao leme do navio.

Nadja, André Breton

(para a bordo)
Por mim continuarei a habitar a minha casa de vidro, onde se pode ver a toda a hora quem vem visitar-me, onde tudo o que está suspenso dos tectos e das paredes perdura como que por encanto, onde repouso à noite entre os lençóis de vidro de uma cama de vidro, onde quem sou me aparecerá, mais tarde ou mais cedo, gravado a diamante.

Nadja, André Breton
Não pratico o culto de Flaubert e contudo se me garantem que, segundo ele próprio confessou, só pretendeu com Salambô, "dar a impressão da cor amarela", com Madame Bovary  "fazer qualquer coisa que fosse da cor do mofo que aparece nos recantos onde há bichos-de-conta", e que o resto lhe era absolutamente indiferente, estas preocupações, em última análise, extraliterárias, dispõem-me em seu favor.

Nadja, André Breton

22 outubro, 2014

Salette Tavares, quel air claire,1963

Salette Tavares, ourobesouro,1965

Salette Tavares, supermarket, 1978



13 outubro, 2014

hoje é o primeiro dia do resto da minha vida
pregador vitoriano


12 outubro, 2014

Sally Mann, Virginia #36 e  Virginia #42,
da série Faces, 2004

09 outubro, 2014


Chaim Soutine, Le Garçon Boucher, 1919
Chaim Soutine, Vieille Femme avec Chien, 1919
Chaim Soutine, Montmartre, 1919





08 outubro, 2014

Chaim Soutine, La Folle, c.1919





05 outubro, 2014

O poeta Bashô ensina que os famosos feitos
dos líderes militares ensanguentados dão em nada
enquanto o pulo de uma rã pode durar séculos.

Nuvens negras e chuva chegam desde o Atlântico.
O sol paira mas agora, sobre Saint-Nazaire
grãos de gelo caem do céu como arroz escuro.

Os poetas são criaturas quase sempre sem conteúdo,
homens que dizem coisas tontas e inverosímeis,
loucos e faladores que imaginam o que lhes apraz.

E no entanto, no entanto, sussurram acerca de milagres,
discorrem sobre o que os outros nem sequer suspeitam,
de modo que suas palavras ardem na escuridão, fosforescendo.

O poeta japonês Bashô ensina-me
que o que está perto pode ser assustadoramente distante e que uma jornada
para um lugar longínquo traz-nos para mais próximo de nós próprios.

Sobre o Atlântico, o céu escureceu,
o granizo caiu ainda há momentos, e agora a cidade brilha
nos raios de sol sob o céu claro. 

Milan Djordjevic



03 outubro, 2014

Duane Michals, A Young Proust Dress As American Indien, 2012
























Duane Michals, Guillaume Appolinaire, 2012

Duane Michals, James Joyce, 2012



Duane Michals, The Unretouched Beauty, 2012


Duane Michals, Rigamarole, 2012


02 outubro, 2014

Duane Michals, Iluminated Man, 1968

30 setembro, 2014

 Duane Michals, René Magritte, 1965

René Magritte, The Listening Room, 1952

29 setembro, 2014


Believe there is a great power silently working all things for good, behave yourself and nevermind the rest.”Beatrix Potter


Beatrix Potter, 19 anos, com o seu rato de estimação Xarifa, 1885



28 setembro, 2014

dentro de um livro, um desenho do joão.

25 setembro, 2014

Some days I feel that I exude a fine dust
like that attributed to Pylades in the famous
Chronica nera areopagitica when it was found

and it’s because an excavationist has
reached the inner chamber of my heart
and rustled the paper bearing your name


I don’t like that stranger sneezing over our love


Frank O’Hara

24 setembro, 2014

in a world where you are possible
   my love
   nothing can go wrong for us, tell me

Frank O’Hara, 1960

L'Ombre et son Ombre (René Magritte e a sua mulher Georgette)


23 setembro, 2014

Gordon Parks, Alberto Giacometti with Scupltures, Paris, 1951

22 setembro, 2014



Hernan Bas, Fragile Moments (two DVD projections), 2003

21 setembro, 2014

187
Estou no hotel e tomo o pequeno almoço na sala. A meu lado está um poeta dinamarquês. Olho através da porta envidraçada que dá para um pequeno cais. Vejo surgir a proa dum enorme barco. Entra pela esquerda do meu campo de visão. Avança lentíssimo e sem qualquer ruído. Olho fascinada a aparição do enorme barco branco. Então dizem-me: vem da Finlândia, chega todos os dias às oito da manhã.

Ana Hatherly, 463 Tisanas

para a construção do poema 17