31 agosto, 2013

Bons Princípios

"A paisagem é de uma monotonia atroz. Horizontal, plana. Neste espaço quase exclusivamente de areia que é o Majâbat al-Koubrâ, nenhuma rocha de um vermelho-queimado se ergue no amarelo-acinzentado omnipresente, nenhum relevo contradiz a horizontalidade neste mundo plano.
Relevo, aqui, significa apenas montes de areia com alguns metros de altura, espalhados por centenas, milhares de metros, também eles repetidos aos milhares. Uma duna e um vale, infinitamente. Um vale e uma duna, até à extrema lassidão, durante semanas e semanas."

Primeiras linhas de 
"Majâbat al-Koubrâ"
Théodore Monod
Publicações Europa-América, 1998

16 janeiro, 2013

09 janeiro, 2013

05 janeiro, 2013


Ganhou quinze medalhas
o general Metralha.
Só lhe falta agora
saber um dia
como é uma batalha.

Nicolás Guillén

04 janeiro, 2013


Esta noite,
quando a Lua vier,
trocá-la-ei em pesetas.

Mas não gostaria que se soubesse,
porque é uma velha
lembrança de família.

Nicolás Guillén

03 janeiro, 2013


Não tenho habilidade pra clarezas. 
Preciso de obter sabedoria vegetal. 
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.) 
E quando esteja apropriado para pedra, terei também 
sabedoria mineral.

Manoel de Barros

02 janeiro, 2013

David Hockney, WoldgateWood, 2006

31 dezembro, 2012


Creio
na nudez
da minha vida

E
não me peçam
cartão de identidade
que nenhum outro
senão o mundo
tenho

Adília Lopes
Gabriel Orozco, "My Hands Are My Heart",1991

30 dezembro, 2012




Rodin, "Masque de Camille Claudel",1884

A pele serve de céu ao coração.
Luís Miguel Nava


29 dezembro, 2012


Introdução à poesia

Pedi-lhes que pegassem num poema
e o colocassem em contraluz
como uma transparência colorida

ou encostassem um ouvido à sua colmeia.

Eu disse larguem um rato no poema
e observem-no a tentar descobrir a saída,

ou caminhem dentro do quarto do poema
e sintam as suas paredes por um instante de luz.

Eu desejo que eles pratiquem ski aquático
sobre a superfície de um poema
deslizando sobre o nome do autor até à margem.

Mas tudo o que eles querem fazer
é amarrar o poema a uma cadeira com uma corda
e obter a sua confissão através de tortura.

Começam a bater-lhe com uma mangueira
para descobrirem o que realmente significa.


Billy Collins


27 dezembro, 2012

Bicicletas quebradas, velhas correntes rebentadas
Guiadores enferrujados lá fora à chuva
Devia haver um orfanato
Para estas coisas que ninguém mais quer
Setembro recorda-me Julho
É tempo de dizer adeus
Se o Verão passou o meu amor permanece
Velhas bicicletas quebradas lá fora à chuva

Bicicletas quebradas, não digam nada aos meus pais
Com todas aquelas cartas enfiadas nos raios
Espalhadas como esqueletos sobre a relva
Rodas que não giram sem a outra metade
As estações passam a correr
E eu que me esqueço todas as vezes
Mas as coisas que me deste ficarão para sempre.
Mesmo quebradas nunca as lançarei fora.

Tom Waits