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Robert Rauschenberg, 1963 |
ENCONTRO
Ele
não apareceu.
Talvez
tenha adoecido ou ficado debaixo de
um
eléctrico. Talvez outra pessoa se pusesse na conversa com ele.
Talvez
se tenha esquecido do relógio,
ou
o relógio se tenha esquecido de lhe dar o tempo certo.
Talvez
o carro não pegasse,
ou
tenha ficado avariado a meio do caminho.
Talvez
alguém lhe telefonasse quando ia a sair de casa,
dizendo-lhe
que tinha de ir a um funeral
ou
que a mãe dele tinha morrido.
Talvez
tenha encontrado um antigo conhecido.
Talvez
tenha tido uma discussão no emprego,
tenha
sido despedido e esteja a esconder
a
cabeça debaixo de uma almofada.
Talvez
a ponte estivesse fechada e
a
seguinte também.
Talvez
o semáforo permanecesse vermelho.
Talvez
o multibanco tenha engolido o cartão
ou
a meio do caminho tenha reparado que se esquecera
do
porta-moedas.
Talvez
tenha perdido os óculos,
não
conseguisse deixar de ler,
houvesse
um programa que ele queria acabar de ver,
não
conseguisse dar a volta à fechadura da porta,
não
encontrasse as chaves em sítio nenhum e
o
cão dele de repente começasse a vomitar.
Talvez
não houvesse um telefone por perto,
não
encontrasse o restaurante
ou
esteja à espera noutro sítio, por engano.
Talvez
– a última possibilidade,
incompreensível
e inesperada –
ele
tenha deixado de me amar.