Junto palavras na
máquina de escrever, pela noite dentro, pensando no dia de hoje. Tão bem que
nós falávamos todos. Uma língua é um mapa dos nossos erros. Frederick Douglass
escrevia num inglês mais puro que o de Milton. As pessoas sofrem
deseperadamente na pobreza. Existem métodos,
mas não os usamos. Joana, que não sabia ler, falava uma forma camponesa
de francês. Algum do sofrimento é: é duro dizer a verdade; isto é a América;
não posso tocar-te agora. Na América temos só o tempo presente. Estou em
perigo. Estás em perigo. O queimar de um livro não desperta em mim qualquer
sensação. Sei que queimar dói. Há chamas de napalme em Catonsville, Maryland.
Sei que queimar dói. A máquina de escrever está sobreaquecida, a minha boca
queima, não te posso tocar agora e esta é a língua do opressor.
Adrienne Rich, 1968 (tradução Ana Luísa Amaral)