05 novembro, 2014

Não podendo falar para toda a terra
direi um segredo a um só ouvido

Luíza Neto Jorge, A Lume
Bruce Nauman, Untitled (Three Large Animals), 1989

04 novembro, 2014

Károly Ferenczy, Rapazes Atirando Seixos ao Rio,1890

02 novembro, 2014

Alberto Carneiro, Um campo depois da colheita para deleite estético do nosso corpo,
1973-76

Alberto Carneiro, Uma floresta para os teus sonhos, 1970

01 novembro, 2014

Uma nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos, através de uma memória que tem a idade do homem. Não a pedra pelo seu lado externo, pela conversão dos seus valores formais, mas pela qualidade do seu íntimo, pelo cosmos que está nela e o qual nos é dado possuir na simplicidade em que a coisa vive.

Alberto Carneiro, Notas para um manifesto de uma arte ecológica
Autoestrada 99E
desde Chico

Os patos-reais desceram
para a noite. Eles riem-se
ao dormir e sonham com o México
e as Honduras. O agrião
assenta na vala de irrigação
e os caules caem para a frente, com
o peso dos melros.

Os campos de arroz flutuam sob a Lua.
Até as folhas molhadas do ácer se agarram 
ao meu pára-brisas. Digo-te, Maryann,
estou feliz.

Raymond Carver, Fogos

31 outubro, 2014

Lucian Freud, Eli, 2002

Lucian Freud, Garden in Winter, 1999

30 outubro, 2014

José Augusto Castro
Há sempre um deus fantástico nas Casas
Em que eu vivo, e em volta dos meus passos
Eu sinto os grandes anjos cujas asas
Contêm todo o vento dos espaços.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, 1947

29 outubro, 2014

Théodore Chassériau, Les Deux Soeurs, 1843
Si el espacio es infinito
estamos en cualquier punto del espacio.

J.L.Borges

28 outubro, 2014

Frantisek Kupka, Bather, 1906

26 outubro, 2014

Jean Tinguely, Baluba, 1961

25 outubro, 2014

#2

Quando alcançarem o cadáver em verossímil conserto
físico — ainda que informe de tamanho e difícil
reconhecença etária —, os físicos acusarão morte súbita. Súbita
como a passagem d’um segundo sem esforço.
Conquanto, no campo superior do papel d’óbito, o fenomenal
facto escrito do desfecho. Adentro do arcabouço
masculino, alojava-se belíssimo, um colossal coração invertido.
Frederico Mira George, O Veneno Solitário, 2014

24 outubro, 2014

Barbara Morgan, Martha Graham, Letter to the World (Kick),1940

23 outubro, 2014

Trata-se, sem dúvida, de factos de valor intrínseco pouco controlável, de carácter absolutamente inesperado, violentamente incidente, que pelo género de associações de ideias suspeitas que despertam constituem um modo de nos fazer entrar na teia de aranha, quer dizer, na coisa que seria a mais cintilante e graciosa do mundo se a um canto, ou nas imediações, não estivesse a aranha; de factos que, pertencendo embora à ordem da constatação pura, tomam sempre a aparência de um sinal desconhecido e me obrigam a descobrir, em plena solidão, inverosímeis cumplicidades, convencendo-me estar iludido todas as vezes que me julgo sozinho ao leme do navio.

Nadja, André Breton

(para a bordo)
Por mim continuarei a habitar a minha casa de vidro, onde se pode ver a toda a hora quem vem visitar-me, onde tudo o que está suspenso dos tectos e das paredes perdura como que por encanto, onde repouso à noite entre os lençóis de vidro de uma cama de vidro, onde quem sou me aparecerá, mais tarde ou mais cedo, gravado a diamante.

Nadja, André Breton
Não pratico o culto de Flaubert e contudo se me garantem que, segundo ele próprio confessou, só pretendeu com Salambô, "dar a impressão da cor amarela", com Madame Bovary  "fazer qualquer coisa que fosse da cor do mofo que aparece nos recantos onde há bichos-de-conta", e que o resto lhe era absolutamente indiferente, estas preocupações, em última análise, extraliterárias, dispõem-me em seu favor.

Nadja, André Breton

22 outubro, 2014

Salette Tavares, quel air claire,1963

Salette Tavares, ourobesouro,1965

Salette Tavares, supermarket, 1978



13 outubro, 2014

hoje é o primeiro dia do resto da minha vida
pregador vitoriano


12 outubro, 2014

Sally Mann, Virginia #36 e  Virginia #42,
da série Faces, 2004