17 janeiro, 2016

o silêncio


Christo e Jeanne-Claude, Running Fence, Sonoma and Marin Counties, California, 1972-76

































faz um poema que não perturbe
o silêncio de onde veio.

Wendell Berry

15 janeiro, 2016

Willi Ruge

Willi Ruge, Seconds before Landing

12 janeiro, 2016

Marina Abramovic e Michael Krüger

Marina Abramovic, The Kitchen (Homage to Saint Therese), 2009 

























Queríamos
surpreender a esperança
quando ela se descontrolasse:
no momento da revolta.
Preparámo-nos para uma grande viagem.
Resguardámo-nos
do frio e do calor.
O farnel
pesava-nos nos ombros:
História, educação,
a capacidade de suportar
o desespero, muita literatura.
Regressámos ontem.
Cansados,
como se pode imaginar,
e cheios de fome.
As fotografias
ainda não foram reveladas.
Daremos a conhecer
os resultados.

De Costas Para a Janela: Poesia Alemã Contemporânea I Michael Krüger (trad. João Barrento)




10 janeiro, 2016

Joaquim e os sais de prata

A Fotografia

1 - Os seiscentos e tantos preceitos dos judeus
bastam para comprar a máquina fotográfica,
mas não podem carregar esse botão
onde o olhar escolhe como ver.

2 - Um dia havia um monte de lixo junto
das bocas de incêndio ciclame e ouro
onde os fumos soterrados de Manhattan
parecem inundar de música o inverno:
eu não tinha o vidro de amor da máquina
para interceder com a minha memória.

3 - Um cristão recolheu o lixo, fez um resto
para um pobrezinho, correu para uma reza solitária
entre algumas flores, um pequeno lago
e as nuvens com aves repousavam no sol.
Como os sais de prata nos deixam escutar.

Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos

09 janeiro, 2016

Joaquim Manuel Magalhães

Aquela estrela, a sétima
a contar de ti, eras tu 
de novo? A dos nomes
escritos na parede
onde rastejam quiméricos
os musgos? Nos telhados
sobre pátios nocturnos?

Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos



( para t., a propósito de estrelas ) 

08 janeiro, 2016

My Mom's Eyes 3

CT, My Mom's Eyes
jan 2016

My Mom's Eyes 2

CT, My Mom's Eyesjan 2016








Camie Lyons




Camie Lyons, Finding Beauty, 2014

03 janeiro, 2016

para a construção do poema 38


inverno e verão

Albert Camus e Francine Faure






















No meio do Inverno, constatei que dentro de mim havia um Verão invencível.

Albert Camus

02 janeiro, 2016

My Mom's Eyes

 CT, My Mom's Eyes
jan 2016






Raul e William

Talvez eu consiga
mediante empregos
de secreta origem
Chegar à absoluta
fase da absoluta vertigem.


Raul de Carvalho, Tampo Vazio



William Turner, Burning Ship, 1830

01 janeiro, 2016

Car le bonheur

Car le bonheur est notre destin véritable. 

Jacques Brel

Arthur Lesley Dow, Cyanotype, c.1900

Arthur Lesley Dow, Cyanotype, c.1900

31 dezembro, 2015

Nell e Miguel

Nell Dorr, Rose Alone with the Sea,1929





















Depois, de um momento para o outro, tudo encaixa e dispara a alta velocidade, é-se sugado por um feixe de luz…

Miguel Branco



30 dezembro, 2015

29 dezembro, 2015

Francis Ponge

O OBJECTO É A POÉTICA
 (...)
Precisamos pois de escolher objectos verdadeiros, objectos indefinidamente aos nossos desejos. Objectos que voltemos a escolher dia após dia, e não como o nosso cenário, a nossa moldura; antes como os nossos espectadores, os nossos juízes; para não sermos, é certo, nem os seus dançarinos, nem os seus palhaços.
Enfim, o nosso secreto conselho.
E assim compormos o nosso templo doméstico:
Cada um de nós, enquanto somos, conhece bem, suponho, a sua Beleza.
Ela fica ao centro, jamais atingida.
Tudo em ordem à sua volta.
Ela, intacta.
Fonte do nosso pátio.


Francis Ponge, Alguns Poemas (trad. Manuel Gusmão)

Notas para uma concha

NOTAS PARA UMA CONCHA
Uma concha é uma coisa pequena, mas posso desmesurá-la recolocando-a onde a encontrei, poisada na extensão da areia. Porque então apanharei um punhado de areia e observarei o pouco que me fica na mão depois de quase todo esse punhado me ter fugido pelo interstício dos dedos, observarei alguns grãos, a seguir cada um deles, e nenhum desses grãos de areia nesse momento me continuará a aparecer como uma coisa pequena, e em breve a concha formal, essa concha de ostra ou essa tiara bastarda, ou esse “canivete”, impressionar-me-á como um monumento enorme, ao mesmo tempo colossal e precioso, algo como o templo de Angkor, Saint-Maclou, ou as Pirâmides, com uma significação muito mais estranha que esses incontáveis produtos de homens.
Se então me vier ao espírito que essa concha, que uma onda do mar pode sem dúvida recobrir, é habitada por um animal, se eu acrescentar um animal a essa concha imaginando-a recolocada sob uns centímetros de água, deixo-vos a pensar quanto crescerá, se intensificará de novo a minha impressão, e se tornará diferente daquela que pode produzir o mais notável dos monumentos que há pouco evocava!

(...)

Não sei porquê mas desejaria que o homem, em vez desses enormes monumentos que apenas testemunham a desproporção gigantesca da sua imaginação e do seu corpo (ou então dos seus ignóbeis costumes sociais, corporativos), em vez de essas estátuas à sua escala ou ligeiramente maiores (penso no David de Miguel Ângelo) que não são senão simples representações de si, esculpisse umas espécies de nichos, de conchas do seu tamanho, de coisas muito diferentes da sua forma de molusco mas contudo a ela proporcionadas ( as palhotas negras satisfazem-me bastante deste ponto de vista), que o homem pusesse o seu cuidado em criar para as gerações uma morada não muito mais corpulenta que o seu corpo, que todas as suas imaginações e razões aí estivessem compreendidas, que ele usasse o seu génio para o ajustamento e não para a desproporção, - ou, pelo menos, que o génio reconhecesse em si os limites do corpo que o suporta.

Francis Ponge, Alguns Poemas (trad. Manuel Gusmão)