Dantes quando eu escrevia poemas eles não mudavam
deixados de noite sobre a página
ficavam como estavam e a luz do dia rompia
nos versos, como na corda da roupa no pátio
ajoujada com o peso de roupas esquecidas ou deixadas ficar
para um sol melhor no dia seguinte
Mas agora sei o que acontece enquanto durmo
e quando acordo o poema mudou:
os factos dilataram-no, ou cancelaram-no;
e à luz de cada manhã, a tua pedra está lá.
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem (trad. Mª Irene Ramalho e Mónica Varese Andrade)
19 março, 2016
18 março, 2016
Aaron e Maurice
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A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.
Maurice Merlau-Ponty
16 março, 2016
Theodor e Vera
O único modo que ainda resta à filosofia
de se responsabilizar perante o desespero seria tentar ver as coisas como
aparecem do ponto de vista da redenção. O conhecimento não tem outra luz,
excepto a que brilha sobre o mundo a partir da redenção: tudo o mais se esgota
na reconstrução e não passa de elemento técnico.
Theodor W. Adorno, Minima Moralia
15 março, 2016
Jannah e Cecile
zero graus talvez existam,
contudo. O leite também azeda
com a trovoada. Os vulcões têm nomes
permanentes, mesmo se não expelem lava.
O mesmo nome não promete que
sejamos semelhantes. Água e fantasmas
conseguem atravessar muitas coisas.
Consegues ver através de nada? Os
fantasmas
vivem, sim e não. Ausente é quando estás
não estando. Às vezes sinto a tua
ausência
mesmo estando tu presente. Às vezes
estás
sem seres aquele de quem sinto a
falta.
Nem todas as nuvens têm um nome.
Jannah Loontjes (tradução de Maria Leonor Raven-Gomes)
Herberto e o silêncio
Pode escrever-se acerca do silêncio, porque é um modo de alcançá-lo, embora impertinente.
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14 março, 2016
Adrienne Rich
Na madeira velha, baratucha, riscada, da mesinha da máquina de escrever
há uma paisagem, feita de veios, que só uma criança pode ver
ou o eu mais velho da criança,
uma mulher sonhando quando devia estar a bater à máquina
o último relatório do dia. Se isto fosse um mapa,
pensa ela, um mapa decretado para memorizar
podendo ela talvez percorrê-lo, ele mostra
cordilheira atrás de cordilheira esbatendo-se no deserto nebulento,
aqui e além um sinal de aquíferos
e um possível bebedouro. Se isto fosse um mapa
seria o mapa da última idade da tua vida,
não um mapa de escolhas mas um mapa de variações
sobre a escolha maior. Seria o mapa pelo qual
ela poderia ver o fim das escolhas turísticas,
de distâncias azuladas e arroxeadas de romantismo,
pelo qual ela reconheceria que a poesia
não é revolução mas uma forma de saber
por que tem de vir a revolução. Se esta mesinha de madeira baratucha,
produzida em massa porém duradoura, presente agora aqui,
é o que é porém um mapa-de-sonho
tão renitente, tão simples,
pensa ela, o material e o sonho podem juntar-se
e isso é o poema e isso é o relatório retardatário.
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem (trad. Mª Irene Ramalho e Mónica Varese Andrade)
há uma paisagem, feita de veios, que só uma criança pode ver
ou o eu mais velho da criança,
uma mulher sonhando quando devia estar a bater à máquina
o último relatório do dia. Se isto fosse um mapa,
pensa ela, um mapa decretado para memorizar
podendo ela talvez percorrê-lo, ele mostra
cordilheira atrás de cordilheira esbatendo-se no deserto nebulento,
aqui e além um sinal de aquíferos
e um possível bebedouro. Se isto fosse um mapa
seria o mapa da última idade da tua vida,
não um mapa de escolhas mas um mapa de variações
sobre a escolha maior. Seria o mapa pelo qual
ela poderia ver o fim das escolhas turísticas,
de distâncias azuladas e arroxeadas de romantismo,
pelo qual ela reconheceria que a poesia
não é revolução mas uma forma de saber
por que tem de vir a revolução. Se esta mesinha de madeira baratucha,
produzida em massa porém duradoura, presente agora aqui,
é o que é porém um mapa-de-sonho
tão renitente, tão simples,
pensa ela, o material e o sonho podem juntar-se
e isso é o poema e isso é o relatório retardatário.
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem (trad. Mª Irene Ramalho e Mónica Varese Andrade)
13 março, 2016
Herberto Helder
O poema é um objecto carregado de poderes magníficos,
terríficos: posto no sítio certo, no instante certo, segundo a regra certa,
promove uma desordem e uma ordem que situam o mundo num ponto extremo: o mundo
acaba e começa. Aliás não é exactamente um objecto, o poema, mas um utensílio:
de fora parece um objecto, tem as suas qualidades tangíveis, não é porém nada
para ser visto mas para manejar.
Herberto Helder, (Auto-)Entrevista, Jornal Público, 4 dezembro 1990
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11 março, 2016
Splendor in Purple
I never paint dreams or nightmares. I paint my own reality.
Frida Kahlo
CT, jacinto sobre paleta de F. (Splendor in Purple),
março 2016
06 março, 2016
Joaquim Manuel Magalhães
Podei as sardinheiras de seis anos.
A meda dos ramos no telheiro
secou ao vagar de março,
enredou-se nos torcidos nós
aí teceram as aranhas, uma gata
pariu uma ninhada
e as milhariças negras e
castanhas com os paus de musgo
começaram por buscar insectos,
descobriram lugares aveludados,
tentaram esconder um ninho.
Línguas de ar sanguinolento
correm nos sulcos calcinados.
Nada. Nada quer dizer.
Joaquim Manuel Magalhães, Segredos, Sebes e Aluviões
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05 março, 2016
anjos
O anjo solar, o outro das sombras
e esse que vagueia nos crepúsculos,
primeiro o da manhã, depois o do entardecer
desenham sinais que sigo para chegar a ti.
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
Kiki Smith
e esse que vagueia nos crepúsculos,
primeiro o da manhã, depois o do entardecer
desenham sinais que sigo para chegar a ti.
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
Kiki Smith
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04 março, 2016
01 março, 2016
27 fevereiro, 2016
26 fevereiro, 2016
Mitsuhashi Takajo
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