Repito a corrida na memória quando estou parado
Penso velozmente que o amor, como Dante disse, é um estado
De locomoção. É um motor. E fico a trabalhar no mecanismo secreto
Do amor.
Daniel Faria, Poesia
11 julho, 2016
10 julho, 2016
09 julho, 2016
07 julho, 2016
Caravaggio e Ana Cristina
Caravaggio, The Incredulity of Saint Thomas, c.1600-1602 |
olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas
Ana Cristina César, Cenas de Abril
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06 julho, 2016
alice no ar
05 julho, 2016
Alejandra, Federico e Isabel
Recuerdo
mi niñez
cuando yo era una anciana
Las flores morían en mis manos
porque la danza salvaje de la alegría
les destruía el corazón
Recuerdo las negras mañanas del sol
cuando era niña
es decir ayer
es decir hace siglos
cuando yo era una anciana
Las flores morían en mis manos
porque la danza salvaje de la alegría
les destruía el corazón
Recuerdo las negras mañanas del sol
cuando era niña
es decir ayer
es decir hace siglos
Alejandra Pizarnik
Federico Garcia Lorca e sua irmã Isabel, 1914 |
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03 julho, 2016
Ana Cristina e Willem
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal
Ana Cristina César
Willem de Kooning, Two Figures in a Landscape, 1967 |
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W
02 julho, 2016
Ana Cristina e Robert
Estou atrás
do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra
Ana Cristina César
Robert Frank, US 90, On the road to Del Rio, 1955 |
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27 junho, 2016
anjo de mãos pequenas
tu estás do meu lado
a noite inteira, anjo de mãos pequenas
nos despenhadeiros da terra
esta estrada não nos levará muito longe
mas sim eu serei o teu amigo
até ao fim
Rui Pires Cabral, Morada
CT, Blue Velvet, 2016 |
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Rui Pires Cabral
25 junho, 2016
(A)braço
o que se consegue
quando se desenha
um braço?
a terrível velocidade da luz
imobiliza-se
sobre a pele.
silêncio
quase.
CT, junho 2016
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21 junho, 2016
20 junho, 2016
a que ama o vento
Eu não sei de pássaros
não conheço a história do fogo.
Mas julgo que a minha solidão deveria ter asas.
Alejandra Pizarnik, Antologia Poética
Anna & Elena Balbusso, ilustração para Burning Girls, de Veronica Shanoes |
Salta com a camisa em chamas
de estrela em estrela,
de sombra em sombra.
Morre de morte longínqua
a que ama ao vento.
Alejandra Pizarnik, Antologia Poética
19 junho, 2016
H + M
Ninguém acrescentará ou diminuirá a
minha força ou a minha fraqueza. Um autor está entregue a sim mesmo, corre os
seus (e apenas os seus) riscos. O fim da aventura criadora é sempre a derrota
irrevogável, secreta.
Mas é forçoso criar. Para morrer nisso e disso. Os outros podem acompanhar com
atenção a nossa morte. Obrigado por acompanharem a minha morte.
Herberto Helder, Photomaton & Vox
Marlene Dumas, 1990 |
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18 junho, 2016
15 junho, 2016
14 junho, 2016
13 junho, 2016
Antónia
Como podem comprovar, conheci a minha mãe exactamente durante o mesmo tempo em que ela me conheceu a mim. Apesar da diferença de idades, em todos os momentos em que ela esteve na minha presença eu estive na presença dela. Não existiu um segundo em que ela estivesse comigo sem a minha presença.
Ainda é assim.
FMG, 13 de junho de 2016
The Brockhaus and Efron Encyclopedic Dictionary |
Antónia
CT, A, junho 2016 |
É então que um grande silêncio cai sobre
os trinta quilómetros quadrados da ilha. Ou vem das coisas, do interior das
coisas. É um silêncio extremamente doce, um equilíbrio supremo. A ilha adquire
uma grave e grandiosa imobilidade. E a luz entra e sai pelas coisas, como se
elas fossem esponjas. As mãos ficam muito nuas. É dos olhos que primeiro
desaparece o sono. E da boca. De cada parte do corpo, lentamente, de todas as
partes, até que as pessoas se abram totalmente.
Como numa ressurreição.
Herberto Helder, Photomaton & Vox
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