13 agosto, 2016

ximari xiyomu dzì

CT, ximari xiyomu dzì (a agulha penetrou-o no corpo), Maputo, 2016





Vivian e Mary

Vivian Maier, Autoretrato

























Who made the world?
Who made the swan, and the black bear?
Who made the grasshopper?
This grasshopper, I mean -
the one who has flung herself out of the grass,
the one who is eating sugar out of my hand,
who is moving her jaws back and forth instead of up and down -
who is gazing around with her enormous and complicated eyes.
Now she lifts her pale forearms and thoroughly washes her face.
Now se snaps her wings open, and floats away.
I don't known exactly what a prayer is.
I do know how to pay attention, how to fall down
into the grass, how to kneel down in the grass,
how to be idle and blessed, how to stroll through the fields,
witch is what I have been doing all day.
Tell me, what else should I have done?
Doesn't everything die at last, and to soon?
Tell me, what is it your plan to do
with your one wild and precious life?


Mary Oliver, New and Selected Poems, vol.1 (Beacon Press)

12 agosto, 2016

ver Rangel 3

CT, ver Rangel, Maputo, 2016


10 agosto, 2016

ver Rangel 2

CT, ver Rangel, Maputo, 2016


oferenda da manhã

UMA CEREJEIRA FLORIU
Esperaste-me
como um precipício espera a catarata
como, de mãos placidamente entrelaçadas,
o escravo espera a lâmina
que o sacerdote de Montezuma
lhe plantará no peito,
como uma floresta espera pela tempestade
que lhe convulsionará as árvores,
como uma planície a inundação,
como os sarmentos ressequidos a labareda,
como a primavera a primeira andorinha
que sulcará negra os seus vales esmeralda,
como uma janela
espera a rubra eclosão do gerânio.
Estavas só,
a tua boca escaldava.
Quando te apertei nos meus braços
uma cerejeira floriu.

Mihai Beniuc (trad. António Cabrita)

09 agosto, 2016

ver Rangel

CT, ver Rangel, Maputo, 2016

Ricardo Rangel , fotojornalista e fotógrafo moçambicano (1924-2009)



defender a alegria e Hannah

Hannah Hoch, Sammelalbum, c.1933
























defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e da agonia
da obrigação de estar alegre


Mario Benedetti

08 agosto, 2016

Céu de Maputo

CT, Céu de Maputo (para José), julho 2016

22 julho, 2016

Estava capaz de ter uma conversa contigo

Estava capaz de fazer uma fogueira. Apetece-te uma fogueira?
Vou fazer uma fogueira.

Estava capaz de rasgar o jornal de domingo aos bocadinhos
e tentar não ligar aos anúncios.

Estava capaz de acabar de cavar o buraco
que estive a abrir no quintal.

Estava capaz de fazer chá e tomar Vitamina C.
Apetece-te uma chávena de chá?

Estava capaz de dar simplesmente um passeio,
Sem destino nenhum.

Estava capaz de ficar muito sossegadinho a um canto parando de inventar motivos
para andar de um lado para o outro.

Estava capaz de ter uma conversa contigo.
Apetece-te uma conversa?


Sam Shepard, Crónicas Americanas



CT, Estava capaz de ter uma conversa contigo, Maputo, 2016

13 julho, 2016

Daniel e Tacita (um oxigénio difícil)

Falo daquilo que vejo, embora possas pensar que sou cego
seguindo as mãos - sim, toco as palavras nas suas superfícies 
e utensílios.

A primeira palavra que os olhos viram, agora que a recordo,
parecia uma imagem - sim, um som desenhado como um fóssil
(falo de fóssil, mesmo
que ele demore a aparecer no que digo),
um som do tamanho de um azulejo; agora que me lembro que era uma palavra

que brilhava nos meus olhos ao vê-la
(ver uma palavra era uma planta muito diferente,
um oxigénio muito difícil de se respirar).

Sim, agora vejo que falo, embora possas pensar que sigo pelo tacto a escrita.
Sim, eu leio e decifro. E agora sei que oiço as coisas devagar.


Daniel Faria, Poesia



Tacita Dean, detail from Sunset, 2015

12 julho, 2016

Daniel Faria

Houvesse um sinal a conduzir-nos
E unicamente ao movimento de crescer nos guiasse. Temos das árvores
A incomparável paciência de procurar o alto
a verde bondade de permanecer
E orientar os pássaros

Daniel Faria, Poesia

11 julho, 2016

Daniel Faria

Repito a corrida na memória quando estou parado
Penso velozmente que o amor, como Dante disse, é um estado
De locomoção. É um motor. E fico a trabalhar no mecanismo secreto
Do amor.

Daniel Faria, Poesia


10 julho, 2016

Objectos nº4



 FMG, Objectos nº4 - Lomoprint, 2016

















09 julho, 2016

Alejandra

William Klein, Girl dancing in Brooklyn, NY, 1955





















para lá de qualquer zona proibida
há um espelho para a nossa triste transparência


Alejandra Pizarnik



08 julho, 2016

André Kertész, Elisabeth and me, Paris, 1931
Not why. Just here.

John Cage

07 julho, 2016

Caravaggio e Ana Cristina

Caravaggio, The Incredulity of Saint Thomas, c.1600-1602




















olho muito tempo o corpo de um poema 
até perder de vista o que não seja corpo 
e sentir separado dentre os dentes 
um filete de sangue 
nas gengivas 

Ana Cristina César, Cenas de Abril


06 julho, 2016

alice no ar

 CT, alice no ar, julho 2016


















Olhe as ervas em volta. Sobre esse talude. Todas as ervas em volta se juntarão para te falar e responder. O mundo em boa verdade acaba de chegar.

Valère Novarina,Sud-Express Poesia Francesa Hoje

05 julho, 2016

Alejandra, Federico e Isabel

Recuerdo mi niñez
cuando yo era una anciana
Las flores morían en mis manos
porque la danza salvaje de la alegría
les destruía el corazón

Recuerdo las negras mañanas del sol
cuando era niña 
es decir ayer
es decir hace siglos


Alejandra Pizarnik

Federico Garcia Lorca e sua irmã Isabel, 1914

03 julho, 2016

Ana Cristina e Willem



Eu não sabia

que virar pelo avesso

era uma experiência mortal




Ana Cristina César


Willem de Kooning, Two Figures in a Landscape, 1967

02 julho, 2016

Ana Cristina e Robert

Estou atrás

do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra

Ana Cristina César

Robert Frank,
US 90, On the road to Del Rio, 1955