10 agosto, 2016

oferenda da manhã

UMA CEREJEIRA FLORIU
Esperaste-me
como um precipício espera a catarata
como, de mãos placidamente entrelaçadas,
o escravo espera a lâmina
que o sacerdote de Montezuma
lhe plantará no peito,
como uma floresta espera pela tempestade
que lhe convulsionará as árvores,
como uma planície a inundação,
como os sarmentos ressequidos a labareda,
como a primavera a primeira andorinha
que sulcará negra os seus vales esmeralda,
como uma janela
espera a rubra eclosão do gerânio.
Estavas só,
a tua boca escaldava.
Quando te apertei nos meus braços
uma cerejeira floriu.

Mihai Beniuc (trad. António Cabrita)

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