08 janeiro, 2017

Eva e Rita

Eva Hesse, s/ título, 1966







































queria mesmo que o poema tivesse uma qualidade profética,
                     que inaugurasse um universo paralelo
           mas o poema é bidimensional; ele tem a velocidade
          de gotas descendo espáduas octagenárias, incorrendo
               em cada vinco, hesitando nos profundos sulcos,

                            
                                           ensaiando um desvio
                                       a cada acidente epidérmico
                                             causado pelos anos.


Rita Isadora Pessoa


07 janeiro, 2017

Aleksandr Rodchenko, Hanging Construction, 1920













































(...) Vi perfeitamente a progressão 
Do desenho, e como ele se detinha na contemplação de cada
Anjo.

Maria Gabriela Llansol, O Começo de Um Livro é Precioso


06 janeiro, 2017

_____________Estas árvores balouçam na sua hesitação
Mas prosseguem. Os ramos mais altos precipitam-se,
Abrem no ar pousadas. Os mais baixos ocupam. Sol não 
Falta. Há apenas a curva do caminho com incidências
Drásticas na sua respiração. Sim, há ainda as concorrentes,
As sementes ininterruptas, e o incompreensível desprezo
Dos Humanos. Parasceve não diz. Se o cortarem, não
Reagirá________«Porque não entendeis a leveza de prosseguir


Maria Gabriela Llansol, "O Começo de um Livro é Precioso"

04 janeiro, 2017

por tudo o que tomba

CT, Objectos do Céu Profundo, 2017

por tudo o que tomba


por tudo o que tomba
sem se reerguer sem
sequer lembrar da queda
        pela sombra
que nunca é proporcional
   à luz         
                 pela sombra
que não é proporcional
de maneira alguma
                      à luz


Rita Isadora Pessoa


(novíssima, belíssima poesia brasileira)



02 janeiro, 2017

o poema

o poema ele não se curva
                            ele é tão domesticável quanto uma onça

                                     fumando charutos cubanos.


Rita Isadora Pessoa

01 janeiro, 2017

26 dezembro, 2016

eis que as Chuvas...

Um homem atacado de tamanha solidão, que ele vá e que suspenda nos santuários a máscara e o bastão de comando!
Quanto a mim, levava a esponja e o fel às feridas de uma velha árvore carregada com as correntes da terra.
"Tinha, eu tinha o gosto de viver longe dos homens, e eis que as Chuvas..."

Saint-John Perse, Habitarei O Meu Nome, trad.João Moita

sem relíquias

     Os homens tinham então
    uma boca mais grave, as mulheres tinham braços mais lentos;
    então, alimentando-se como nós de raízes, grandes animais
taciturnos enobreciam-se;
   e mais longas sobre mais sombra se erguiam as pálpebras...
  (Tive este sonho, ele consumiu-nos sem relíquias.) 

Saint-John Perse, Habitarei O Meu Nome, trad.João Moita


Objectos do Céu Profundo 11
























CT, Objectos do Céu Profundo, dezembro 2016

24 dezembro, 2016

Standing Doe

Miguel Branco, Untitled (Standing Doe), 2005

19 dezembro, 2016

Gabriela

É estranho pintar. Teu Spinoza dir-te-ia que a sensação
Do traço se desenvolve sem harmonia nos nós da tela e 
Do teu corpo. Diferentes os traços da manhã, os do meio
Dia e os do entardecer. Até veres tua mulher de noite
Respirando a dormir entre poemas de Walt Whitman.
Seu destino é narrar o maior desejo. Seja ele silêncio,
Sono ou acção meditativa. Narrar o encontro de dois
Animais que se farejam. Narrar a vitalidade combativa,
Mesmo quando compassiva. Narrar o cérebro retraído
Dos Senhores da Guerra. Narrar a postura de teu corpo
Enquanto esperas que o olhar se disponha enfim na cena.
Narrar a ausência do humano e do seu tipo. A atmosfera
É o traço deixado.

Maria Gabriela Lhansol, O Começo de Um Livro É Precioso


Matisse recortando

Matisse, 1948

12 dezembro, 2016

Objectos do Céu Profundo 8




























CT, Objectos do Céu Profundo, colagens, novembro 2016

Tolentino

Se agitares tesouras numa fogueira
não esqueças que me feres
um avesso de lume é o meu único
segredo
no impreciso avanço das lâminas
um anjo o descobriria
Tira a faca da gaveta
mas não esqueças
se a cravares na água
com altas vagas o mar me sepultará
dentro da casa abandonada
Não lamentes serem os versos
saberes tão frágeis
as flores mais belas são as que se colhem
quando ainda se ignora a morte"


José Tolentino Mendonça,  A Noite Abre Meus Olhos (Poesia Reunida)

10 dezembro, 2016

Objectos do Céu Profundo 7





























CT, Objectos do Céu Profundo, colagens, novembro 2016

09 dezembro, 2016

um século depois

David Hockney, Gauguin's Chair, 1988

04 dezembro, 2016

You are born alone. You die alone. The value of the space in between is trust & love.

Louise Bourgeois

Louise Bourgeois, Les Fleurs, 2009