procurei que as coisas acontecessem
procurei no céu olhares misteriosos
e na terra o sabor sereno dos diospiros
plantei algumas árvores
e desenhei e escrevi e pintei
terá sido em vão porque não se procura
nada nos céus nem na terra
porque de nada vale o sabor de um fruto
ou um desenho um vocábulo uma cor
ainda assim
quando não esperava
encontrei uma pequena esfera no chão
desconheço o seu uso mas trago-a na mão
Frederico Mira George, "poemas dispersos", 2008
18 maio, 2008
15 maio, 2008
Thoreau
05 maio, 2008
04 maio, 2008
03 maio, 2008
02 maio, 2008
01 maio, 2008
28 abril, 2008
22 abril, 2008
20 abril, 2008
16 abril, 2008
15 abril, 2008
14 abril, 2008
13 abril, 2008
robert e frederico
Rober Mapplethorpe, "Leaf", 1989
w:
é uma flor.voa como uma flor. morre.como o coração
Frederico Mira George, "Silenciário", 2008
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poesia,
poesia portuguesa,
R
09 abril, 2008
Fust Milán
Os anjos são escuros. Não vês a espada nas suas mãos?
Quando lampejam na luz, cruzam, então, o Sol e seus negros círculos luminosos,
e o Sol abre-se para eles. Porque eles voam com espadas nas mãos
e cobrem seus pobres olhos - santo, santo, santo, gritam -, lá em cima, aos raios,
e os raios empinam-se diante deles, sim.
E como cãezinhos, assim se baixam Lua e Sol diante deles,
e, como os patos, também as estrelas voam, grasnando, diante deles,
e a sua terrível humildade fá-las explodir imediatamente.
Fust Milán (1888-1967)
Quando lampejam na luz, cruzam, então, o Sol e seus negros círculos luminosos,
e o Sol abre-se para eles. Porque eles voam com espadas nas mãos
e cobrem seus pobres olhos - santo, santo, santo, gritam -, lá em cima, aos raios,
e os raios empinam-se diante deles, sim.
E como cãezinhos, assim se baixam Lua e Sol diante deles,
e, como os patos, também as estrelas voam, grasnando, diante deles,
e a sua terrível humildade fá-las explodir imediatamente.
Fust Milán (1888-1967)
08 abril, 2008
clube da imaginação
Se eu fosse uma palavra seria a palavra Oxigénio porque era de toda a gente.
(Ana Rita)
http://clubedaimaginacao.blogspot.com
(Ana Rita)
http://clubedaimaginacao.blogspot.com
Wislawa Szymborska
Nada mudou.
O corpo é sensível à dor,
precisa de comer, respirar e dormir,
por baixo da pele fina corre sangue,
tem a provisão adequada de dentes e unhas,
ossos quebráveis e articulações extensíveis.
Nas torturas tudo isto é tomado em conta.
Nada mudou.
O corpo treme como tremia
antes e depois da fundação de Roma,
no século vinte antes e depois de Cristo,
torturas sempre as houve e haverá, só a terra ficou mais pequena
e o que quer que aconteça, é como se fosse aqui ao lado.
Nada mudou.
Apenas há mais gente,
juntaram-se novas às velhas culpas,
reais, inusitadas, instantâneas, nenhumas,
mas o grito, com o qual o corpo por elas paga,
foi, é, e será o grito da inocência,
segundo o registo da escala secular.
Nada mudou.
Talvez apenas as maneiras, as cerimónias, as danças.
O gesto das mãos para proteger a cabeça
continua a ser o mesmo.
O corpo contorce-se, debate-se, tenta escapar,
cai redondamente, encolhe os joelhos,
torna-se roxo, incha, saliva e sangra.
Nada mudou.
Excepto o curso dos rios,
a linha das florestas, dos desertos e glaciares.
É nestas paragens que vagueia a alma,
Parte, volta, vai e vem
alheia a si mesma, intangível,
ora certa, ora incerta da sua existência.
Mas o corpo está e está e está,
sem ter outra saída.
Wislawa Szymborska, “Gente na Ponte” , 1986
O corpo é sensível à dor,
precisa de comer, respirar e dormir,
por baixo da pele fina corre sangue,
tem a provisão adequada de dentes e unhas,
ossos quebráveis e articulações extensíveis.
Nas torturas tudo isto é tomado em conta.
Nada mudou.
O corpo treme como tremia
antes e depois da fundação de Roma,
no século vinte antes e depois de Cristo,
torturas sempre as houve e haverá, só a terra ficou mais pequena
e o que quer que aconteça, é como se fosse aqui ao lado.
Nada mudou.
Apenas há mais gente,
juntaram-se novas às velhas culpas,
reais, inusitadas, instantâneas, nenhumas,
mas o grito, com o qual o corpo por elas paga,
foi, é, e será o grito da inocência,
segundo o registo da escala secular.
Nada mudou.
Talvez apenas as maneiras, as cerimónias, as danças.
O gesto das mãos para proteger a cabeça
continua a ser o mesmo.
O corpo contorce-se, debate-se, tenta escapar,
cai redondamente, encolhe os joelhos,
torna-se roxo, incha, saliva e sangra.
Nada mudou.
Excepto o curso dos rios,
a linha das florestas, dos desertos e glaciares.
É nestas paragens que vagueia a alma,
Parte, volta, vai e vem
alheia a si mesma, intangível,
ora certa, ora incerta da sua existência.
Mas o corpo está e está e está,
sem ter outra saída.
Wislawa Szymborska, “Gente na Ponte” , 1986
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