Pode escrever-se acerca do silêncio, porque é um modo de alcançá-lo, embora impertinente.
15 março, 2016
Herberto e o silêncio
Pode escrever-se acerca do silêncio, porque é um modo de alcançá-lo, embora impertinente.
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14 março, 2016
Adrienne Rich
Na madeira velha, baratucha, riscada, da mesinha da máquina de escrever
há uma paisagem, feita de veios, que só uma criança pode ver
ou o eu mais velho da criança,
uma mulher sonhando quando devia estar a bater à máquina
o último relatório do dia. Se isto fosse um mapa,
pensa ela, um mapa decretado para memorizar
podendo ela talvez percorrê-lo, ele mostra
cordilheira atrás de cordilheira esbatendo-se no deserto nebulento,
aqui e além um sinal de aquíferos
e um possível bebedouro. Se isto fosse um mapa
seria o mapa da última idade da tua vida,
não um mapa de escolhas mas um mapa de variações
sobre a escolha maior. Seria o mapa pelo qual
ela poderia ver o fim das escolhas turísticas,
de distâncias azuladas e arroxeadas de romantismo,
pelo qual ela reconheceria que a poesia
não é revolução mas uma forma de saber
por que tem de vir a revolução. Se esta mesinha de madeira baratucha,
produzida em massa porém duradoura, presente agora aqui,
é o que é porém um mapa-de-sonho
tão renitente, tão simples,
pensa ela, o material e o sonho podem juntar-se
e isso é o poema e isso é o relatório retardatário.
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem (trad. Mª Irene Ramalho e Mónica Varese Andrade)
há uma paisagem, feita de veios, que só uma criança pode ver
ou o eu mais velho da criança,
uma mulher sonhando quando devia estar a bater à máquina
o último relatório do dia. Se isto fosse um mapa,
pensa ela, um mapa decretado para memorizar
podendo ela talvez percorrê-lo, ele mostra
cordilheira atrás de cordilheira esbatendo-se no deserto nebulento,
aqui e além um sinal de aquíferos
e um possível bebedouro. Se isto fosse um mapa
seria o mapa da última idade da tua vida,
não um mapa de escolhas mas um mapa de variações
sobre a escolha maior. Seria o mapa pelo qual
ela poderia ver o fim das escolhas turísticas,
de distâncias azuladas e arroxeadas de romantismo,
pelo qual ela reconheceria que a poesia
não é revolução mas uma forma de saber
por que tem de vir a revolução. Se esta mesinha de madeira baratucha,
produzida em massa porém duradoura, presente agora aqui,
é o que é porém um mapa-de-sonho
tão renitente, tão simples,
pensa ela, o material e o sonho podem juntar-se
e isso é o poema e isso é o relatório retardatário.
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem (trad. Mª Irene Ramalho e Mónica Varese Andrade)
13 março, 2016
Herberto Helder
O poema é um objecto carregado de poderes magníficos,
terríficos: posto no sítio certo, no instante certo, segundo a regra certa,
promove uma desordem e uma ordem que situam o mundo num ponto extremo: o mundo
acaba e começa. Aliás não é exactamente um objecto, o poema, mas um utensílio:
de fora parece um objecto, tem as suas qualidades tangíveis, não é porém nada
para ser visto mas para manejar.
Herberto Helder, (Auto-)Entrevista, Jornal Público, 4 dezembro 1990
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11 março, 2016
Splendor in Purple
I never paint dreams or nightmares. I paint my own reality.
Frida Kahlo
CT, jacinto sobre paleta de F. (Splendor in Purple),
março 2016
06 março, 2016
Joaquim Manuel Magalhães
Podei as sardinheiras de seis anos.
A meda dos ramos no telheiro
secou ao vagar de março,
enredou-se nos torcidos nós
aí teceram as aranhas, uma gata
pariu uma ninhada
e as milhariças negras e
castanhas com os paus de musgo
começaram por buscar insectos,
descobriram lugares aveludados,
tentaram esconder um ninho.
Línguas de ar sanguinolento
correm nos sulcos calcinados.
Nada. Nada quer dizer.
Joaquim Manuel Magalhães, Segredos, Sebes e Aluviões
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05 março, 2016
anjos
O anjo solar, o outro das sombras
e esse que vagueia nos crepúsculos,
primeiro o da manhã, depois o do entardecer
desenham sinais que sigo para chegar a ti.
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
Kiki Smith
e esse que vagueia nos crepúsculos,
primeiro o da manhã, depois o do entardecer
desenham sinais que sigo para chegar a ti.
Joaquim Manuel Magalhães, Os Dias, Pequenos Charcos
Kiki Smith
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04 março, 2016
01 março, 2016
27 fevereiro, 2016
26 fevereiro, 2016
Mitsuhashi Takajo
24 fevereiro, 2016
23 fevereiro, 2016
Kiki e Uda
22 fevereiro, 2016
21 fevereiro, 2016
Mitsuhashi Takajo
A mulher de pé
sozinha, pronta a avançar
pela Via Láctea.
Mitsuhashi Takajo em O Japão no Feminino II, Haiku séculos XVII a XX, trad.Luísa Freire
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20 fevereiro, 2016
Uda Kiyoko
CT, 1998
Metade do corpo
num sonho; a outra metade
dentro da neve.
Uda Kiyoko em O Japão no Feminino II, Haiku séculos XVII a XX, trad.Luísa Freire
Metade do corpo
num sonho; a outra metade
dentro da neve.
Uda Kiyoko em O Japão no Feminino II, Haiku séculos XVII a XX, trad.Luísa Freire
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Uda Kiyoko
19 fevereiro, 2016
book
CT, book, 2016
I am certain of nothing but of the holiness of the Heart’s affections and
the truth of imagination.
John Keats
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14 fevereiro, 2016
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