08 abril, 2008

Wislawa Szymborska

Nada mudou.
O corpo é sensível à dor,
precisa de comer, respirar e dormir,
por baixo da pele fina corre sangue,
tem a provisão adequada de dentes e unhas,
ossos quebráveis e articulações extensíveis.
Nas torturas tudo isto é tomado em conta.

Nada mudou.
O corpo treme como tremia
antes e depois da fundação de Roma,
no século vinte antes e depois de Cristo,
torturas sempre as houve e haverá, só a terra ficou mais pequena
e o que quer que aconteça, é como se fosse aqui ao lado.

Nada mudou.
Apenas há mais gente,
juntaram-se novas às velhas culpas,
reais, inusitadas, instantâneas, nenhumas,
mas o grito, com o qual o corpo por elas paga,
foi, é, e será o grito da inocência,
segundo o registo da escala secular.

Nada mudou.
Talvez apenas as maneiras, as cerimónias, as danças.
O gesto das mãos para proteger a cabeça
continua a ser o mesmo.
O corpo contorce-se, debate-se, tenta escapar,
cai redondamente, encolhe os joelhos,
torna-se roxo, incha, saliva e sangra.

Nada mudou.
Excepto o curso dos rios,
a linha das florestas, dos desertos e glaciares.
É nestas paragens que vagueia a alma,
Parte, volta, vai e vem
alheia a si mesma, intangível,
ora certa, ora incerta da sua existência.
Mas o corpo está e está e está,
sem ter outra saída.

Wislawa Szymborska, “Gente na Ponte” , 1986

07 abril, 2008

Wallace Stevens

CADÊNCIA DE MARTE
(…)
III

Que tinha essa estrela a ver com o mundo que iluminava,
Com o vazio dos céus sobre a Inglaterra, sobre a França
E sobre os acampamentos alemães? Parecia estar alheia.
E, no entanto, é isto que permanecerá – ela própria
É tempo, alheio a qualquer passado, alheia a
Qualquer futuro, o ser que sempre é
O que sempre respira e mexe, o fogo permanente,


IV
O presente próximo, o presente realizado.
Não o símbolo, mas aquilo por que o símbolo está,
A coisa, viva no ar, que nunca se transforma
Se bem que o ar se transforme. Só esta noite eu a vi de novo,
No princípio do Inverno, e de novo respirei
E de novo me movi e de novo cintilei, o tempo de novo cintilou.

Wallace Stevens, “Partes de um Mundo”

06 abril, 2008

do ar


Dennis Oppenheim, "Boundary Split", 1979






Dennis Oppenheim, "Dead Ramp", 1978






Dennis Oppenheim, "Information Lines", 1981

(para o Luís, enquanto esperamos o regresso do Geografismos )
Aqui - significa esta cidade,
governada por ti e pela nuvem,
a partir das suas noites.

René Char, "Sete Rosas Mais Tarde"

05 abril, 2008

"Hope" is the thing with feathers -
That perches in the soul -
And sings the song without the words -
And never stops - at all –

Emily Dikinson

03 abril, 2008


James Welling, 2005

James Welling, 2005


#17
ainda trago os espinhos na palma dos pés no início parecia uma caminhada tão simples pura e transparente mesmo com muito esforço as agulhas não saem talvez estejam definitivamente cravadas não sinto dor não sinto os pés sofro só a memória do primeiro andamento/


Frederico Mira George, "O Caderno Feliz", 2008



James Welling, 2005

02 abril, 2008

caravaggio


Caravaggio, "Judith beheading Holofernes" (detalhe)

24 março, 2008


James Welling, "Alcott", 2006

James Welling


James Welling, "Witman", 2006

21 março, 2008

a luz

A luz é símbolo e agente de pureza. Onde a luz não tem nada a fazer, nada a unir ou nada a separar, passa.

Novalis, "Fragmentos"

14 março, 2008

Vija Celmins


Vija Celmins, s/título, 1999

11 março, 2008

Flora


Flora Natapoff, s/ título, 2007

Flora Natapoff


Flora Natapoff, s/título, 2007

10 março, 2008


figura feminina de mármore - 2600-2400 A.C.

09 março, 2008

Orange John


John Baldessari,"Stonehenge (with two persons) Orange, 2005

Red John


John Baldessari, "Stonehenge (with two persons) Red, 2005

03 março, 2008

as outras asas de victor


Victor Hugo, empreintes de denteles