02 fevereiro, 2008

Herberto e Kiki


Kiki Smith, "Standing"
Uma golfada de ar que me acorda numa imagem larga.
Os braços apertam os pulmões da estrela.
e o golpe freme a toda a altura negra. Tremo
na linha sísmica que atravessa o sono.
De ferro em brasa na cabeça,
medo e delírio,
o sombrio trabalho de beleza com as unhas fincadas
na matéria atenta
à olaria.
E súbito, apenas pelo uso elementar das coisas,
esse júbilo terrível.

Herberto Helder, "Ou o Poema Contínuo"





01 fevereiro, 2008

russell edson, não cresças na sala

Russell Edson

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.

Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.

Ele disse eu estava a brincar eu não sou uma árvore e deixou cair as folhas.

Mas os pais disseram olha é outono.


Russell Edson, "O Túnel"

28 janeiro, 2008

25 janeiro, 2008

Wolfgang Laib


Wolfgang Laib, 2007

23 janeiro, 2008

Kiki


Kiki Smith, "Standing"(pormenor)

Kiki Smith Standing


Kiki Smith,"Standing"

22 janeiro, 2008

dois retratos de Paul Celan



UMA VEZ
ouvi-o,
lavava o mundo,
invisível, toda a noite,
real.

Paul Celan, "Sete Rosas Mais Tarde"

Paul Celan

Reunido está o que vimos,
para despedida de ti e de mim:
o mar, que nos lançava noites para a terra,
a areia, que as atravessou connosco,
a urze vermelho-ferrugem além
onde o mundo nos aconteceu.

Paul Celan, "Sete Rosas Mais Tarde"

21 janeiro, 2008


Andy Goldsworthy, "Rowan Leaves With Hole"

20 janeiro, 2008

Land Art


Andy Goldsworthy

(para Miguel)

18 janeiro, 2008

Daniel e Dennis

(...)
Põe uma escada e sobe ao cimo do que vês

Daniel Faria, "Homens que São Como Lugares Mal Situados"


Dennis Oppenheim, "Digestion", 1989

16 janeiro, 2008

Kenneth Nolan


Kenneth Nolan, "Gift", 1961

15 janeiro, 2008

pour mon petit chat gris

O gato dito doméstico ou de lineu

Primo em linha recta do Gato Legível, uma nem sempre fundada tradição de abandalho pesa sobre a origem egípcia, eminentemente cruel e aristocrática, dos da sua espécie. O Gato urina com êxito nos objectos de lar, e quando a angina estala enfim os peitos da patroa que julgou poder fretá-lo para pequenas voltas, O GATO esfrega os olhos, abre uma janela, e voa toda a noite, de barriga para cima. Nestas surtidas voantes encontra-se por vezes com os seus camaradas libertários, e então acendem fogos que, uma vez por ano, formam cortejo em direcção à Lua, onde um gato já cego os devolve aos espaços, transformados em cinza e em máquinas de luar.
Mário Cesariny, "Manual de Prestidigitação"

14 janeiro, 2008

João e Peter


foto do meu filho João (12 anos)
(...)
É também peculiar o sentimento da duração
em face de certas coisas pequenas,
quanto mais simples mais impressionantes:
daquela colher
que me acompanhou em todas as mudanças de casa,
daquela toalha
pendurada nas casas de banho mais diversas,
do bule e da cadeira de verga
durante anos guardados numa cave
ou arrumados em qualquer outro lugar,
não no que era habitual, é certo,
mas, apesar disso, no seu lugar.
E finalmente:
Feliz todo aquele que tem os seus locais da duração;
porque, mesmo que para sempre seja forçado a partir para uma terra estranha,
sem esperança de regressar ao seu próprio ambiente,
não será jamais um expatriado.
Peter Handke, "Poema à Duração"

13 janeiro, 2008

clube da imaginação

Imaginei uma
Menina que estava a fazer uma
Armadilha para a
Galinha que estava sentada numa palavra chamada
Imaginar. Imaginou-se a
Nadar dentro de uma piscina
Azul. Nadou e encontrou uma
Cereja que tinha um
Anjo em cima do
Ombro.

Adriana (10 anos)


Imaginou
Margarida que as
Assinaturas dela e do
Gonçalo eram
Inimigas.
Na escola
Assinou uma
Cebola
Antiga e
Olhou.

Adriana (10 anos)

12 janeiro, 2008

clube da imaginação - de onde vêm as palavras?

As palavras vêm da varinha mágica que é a língua.
As palavras vêm da sopa.
As palavras vêm dos sons que ouvimos quando estamos com os nossos amigos.
Há palavras quentinhas, acabadinhas de sair do forno.
Se a caneta não escrever, as palavras saem pelas mãos.
As palavras vêm da lua de Inverno.
As palavras são muito tímidas e quando querem sair de casa, vão pela chaminé.
As palavras vêm do coração.
As palavras vêm da palavra “palavra”.
As palavras vêm do fogo, quando o acendemos, as palavras queimam-se e saem, iluminadas.
É da imaginação que vêm as melhores palavras.
Se fosse uma prenda com palavras más, eu não a abria.
As palavras vêm de Homero porque os poetas têm muita sabedoria.
As palavras vêm nas nuvens brancas.
Quando dizemos a palavra errada ela desaparece.

Ana, Ana Rita, João L., João R., Carina, Adriana, Pedro, Alexandre, Inês (10 e 11 anos)

teresa ontem


asa de rouxinol

10 janeiro, 2008

Dennis e Luís


Dennis Oppenheim, "Annual Rings", 1969
DOIS RIOS
O corpo dividido em duas partes
fechadas
à chave uma na outra, avanço
num duplo coração como se fosse
ao mesmo tempo num só barco por dois rios.

Luís Miguel Nava, "O Céu Sob as Entranhas"