06 abril, 2012

belos disparates de amor (1 a 10)




belos disparates de amor
CT, 2011


1.
construídos com ouro,
belos disparates de amor.


2.
experimentem refletir neste problema.


3.
não se queixam.
mergulham no mar.


4.
os homens dormem numa divisão,
hipopótamos, dragões, ursos polares.

de uma forma ou de outra,
o importante
é não deixar ninguém.


5.
estaremos realmente
no sono?


6.
ninguém percebe que queira estar longe de ti
meu corpo.


7.
nascido para o trono
o mistério é sair de lá.


8.
espreguiço-me no perigo
é esse o desejo supremo.
tranquilidade inquieta.


9.
quase sem nenhum ornamento
a jóia nua.


10.
dorme dorme dorme,
meu grito.

05 abril, 2012

Vija e a transparência

Vija Celmins, Star field III, desenho, 1982/83

"Como viverias se os teus pensamentos fossem transparentes? Se os outros os pudessem ler? Na sua totalidade?"   
 in a bordo

04 abril, 2012


Manoel outra vez


Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
agramática.
Manoel de Barros

17 março, 2012

Sigmar e Manoel














Sigmar Polke,1990


"A função da poesia é encantar palavras. Tem outra: enlouquecer as palavras para que elas transmitam nossos delírios. Tem outra função ainda, que é a de renovar o idioma. Poesia é a loucura das palavras. (...) é preciso ensinar que o cheiro do lírio também é branco, (...) O que informa a palavra poética são nossas memórias fósseis. Nós moramos nas nossas antecedências. De lá a palavra nos traz. E só a invenção nos retira de lá."

Manoel de Barros




16 março, 2012

11 março, 2012

Manoel

Eu escuto a cor do passarinho.

Manoel de Barros

10 março, 2012

Eila e Emma

Como um inseto
imóvel no ramo
quero semear
algo que ninguém
procure, veja, persiga.

Eila Kivikkaho


Emma Spencer
c.1899

a grief observed

"Nunca ninguém me tinha dito que a dor se assemelhava tanto ao medo. Não que esteja assustado, mas a sensação é a de estar assustado. A mesma ânsia no estomâgo, o mesmo desassossego, os bocejos. Não páro de engolir em seco.
Noutras alturas é como estar ligeiramente ébrio ou ter sofrido uma pancada na cabeça. Há uma espécie de pano invisível entre mim e o mundo. sinto dificuldade em compreender o que me dizem. Ou talvez dificuldade em desejar compreender.
...
Nunca sabemos até que ponto acreditamos realmente nalguma coisa, até que a sua veracidade ou falsidade se tornam para nós uma questão de vida ou de morte.
...
Senhor,são estas as vossas verdadeiras condições? Poderei reencontrar H. somente se aprender a amar-vos tanto que não me importe se a encontro ou não?


"Dor", C.S. Lewis

Sigmar Polke,1986


Ilse Bing,1932

29 julho, 2011

a ler Klee (uma espécie de esperança)

"52. Berna, 10/11/1897 À medida que o tempo passa, cresce em mim o medo do meu amor cada vez maior pela música."

53. Berna, 12/12/1897 Depois de algum tempo, resolvi folhear alguns dos meus cadernos de esboços. Senti então como se uma espécie de esperança voltasse a despertar dentro de mim."

56. Berna, 31/01/1898 Em Dahlholzi deitei-me na terra. Durante muito tempo fiquei olhando as copas dos pinheiros balançando ao vento. O sussurro, um estalido e atrito dos galhos. Música.
(...) Em casa eu brincava um pouco com as cores. Era irritante. Compor poemas também não dava. Como 'naquela noite de verão', eu fechava a mão sobre um enxame de mosquitos, sem conseguir apanhar nenhum. E no entanto o murmúrio de milhares de vozes."

Diários de Paul Klee

28 julho, 2011

a ler Klee

"25. Pelo buraco da cerca no jardim, roubei um bolbo de dália e transplantei-o no meu jardim de um metro quadrado. Tinha esperança de ver nascer lindas folhas e talvez uma flor amiga. Mas cresceu todo um arbusto, coberto de flores vermelho-escuras. Isso despertou-me um certo medo e cheguei a pensar em renunciar à minha posse, dando-a de presente (oito anos)."

"27. No restaurante do meu tio, o homem mais gordo da Suíça, havia mesas com tampo de mármore polido, onde se via um emaranhado de linhas petrificadas. Nelas podíamos descobrir figuras humanas grotescas e aprisioná-las com o lápis. Eu adorava fazer isso; primeiros documentos da minha 'inclinação pelo bizarro' (nove anos)."

Diários de Paul Klee (lembranças de infância)


12 junho, 2011

05 junho, 2011

diz lá outra vez



CT 11

CT 11

onde é que começa a realidade
e acaba o reflexo?
diz lá outra vez.

CT "belos disparates de amor", 2011

04 junho, 2011

A propósito de estrelas *


CT 11


Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece
que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas

*Adília Lopes

03 junho, 2011

02 junho, 2011