07 março, 2014

Nunca ninguém tem a certeza de nada,
de ser amado, de ser abandonado
tudo é possível e tudo é permitido
tudo sucede em alternância.

Agora me lembro o que queria dizer:
enquanto isso não trouxer infelicidade
é uma sensação agradável. Mas no fundo
somos doces como Turkish Delight
numa lata cheia de pregos.

Judith Herzberg, O Que Resta Do Dia

Judith Herzberg, por Chris van Houts

Egipto, dinastia 18, c.1353-1336 a.c.

06 março, 2014


Contar os grãos de areia destas dunas é o meu ofício actual. Nunca julguei que fossem tão parecidos, na pequenez imponderável, na cintilação de sal e oiro que me desgasta os olhos. O inventor dos jogos meu amigo veio encontrar-me quase cego. Entre a névoa radiosa da praia mal o conheci. Falou com a exactidão de sempre:
«O que lhe falta é um microscópio. Arranje-o depressa, transforme os grãos imperceptíveis em grandes massas orográficas, em astros, e instale-se num deles. Analise os vales, as montanhas, aproveite a energia desse fulgor de vidro esmigalhado para enviar à Terra dados científicos seguros. Escolha depois uma sombra confortável e espere que os astronautas o acordem».

Carlos de Oliveira, Trabalho Poético
CT, 2014, março (da série "desenhos de maio")

05 março, 2014

André Breton por Man Ray, 1935

Uma palavra e tudo está salvo
Uma palavra e tudo está perdido.

André Breton, "O Revólver de Cabelos Brancos"

04 março, 2014

(...)  
O sentido do raio de sol
  O clarão azul que liga as machadadas do lenhador
  O fio do papagaio de papel em forma de coração ou de laço
  O batimento ritmado da cauda dos castores
  A diligência do relâmpago
  O arremesso de confeitos do alto das velhas escadas
  A avalanche

A câmara dos sortilégios
Não cavalheiros não é a oitava Câmara
Nem os vapores da camarata ao domingo à noite

  Os passos de dança transparentes por cima dos mares
  A demarcação na parede dum corpo de mulher ao lançar de punhais
  As claras volutas do fumo
  Os anéis do teu cabelo
  A curva da esponja das Filipinas
  Os nós da serpente vermelha
  A entrada da hera nas ruínas
  Tem todo o tempo à sua frente
  O abraço poético como o abraço carnal
  Enquanto dura
  Impede toda a fugida sobre a miséria do mundo


André Breton, "Poemas"
Paul Eluard e André Breton, por Man Ray, 1930

Gala e Paul Eluard, 1912-13

03 março, 2014

Nush e Paul Eluard



























Ela está de pé nas minhas pálpebras
com os dedos nos meus entrelaçados.
Ela cabe toda em minhas mãos,
ela tem a cor dos meus olhos
e desaparece na minha sombra
como uma pedra sobre o céu.

Tem sempre os olhos abertos
e não me deixa dormir.
Os sonhos dela à luz do dia
fazem os sóis evaporar-se,
fazem-me rir, chorar e rir,
falar sem ter nada a dizer.

Paul Eluard, "Algumas das Palavras"
(...)
Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões a cantar
O mistério em que o amor me cria e me liberta.

Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu próprio.

Paul Eluard, "Algumas das Palavras"


Nush e Paul Eluard

01 março, 2014

Robert Doisneau, 1959

28 fevereiro, 2014

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.” 

Clarice Lispector




Clarice Lispector:
“Sou tão misteriosa que não me entendo.”


“Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.”

27 fevereiro, 2014

“…when (William Melchior) is a couple of years older, I will surely teach him to write poetry, but first he must learn to cut paper - that is a first start to imaginative writing …”

Hans Christian Andersen em carta a Dorothea Melchior, 21/ julho/1867
H.C. Andersen, papéis recortados

H.C.Andersen, papéis recortados

Quarto de Hans Christian Andersen em Copenhaga

24 fevereiro, 2014

Noé Sendas, "Crystal Girl  #10", 2010

Noé Sendas, "Crystal Girl  #17", 2010

22 fevereiro, 2014


Jacques Henri Lartigue, 1908


21 fevereiro, 2014


Jacques Henri Lartigue, "Self Portrait with Hydroglider", 1904

Jacques Henri Lartigue, Diário - julho 1911
"Like Peter Pan, at just seven years of age Jacques-Henri Lartigue decided to dedicate his life to the pursuit of happiness and never growing up. His father gave him the ultimate present with which to document a lifetime’s enjoyment: a camera, and luckily for us, Lartigue was determined to photograph everything. "

20 fevereiro, 2014

Jacques Henri Lartigue, "Zissou",1911
para a g.

17 fevereiro, 2014

Georgia O'Keeffe, "Bleeding Heart",1932