Jean Cocteau, Raymond Radiguet endormi, 1922 |
15 dezembro, 2014
13 dezembro, 2014
12 dezembro, 2014
11 dezembro, 2014
A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra
E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão
E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão
Daniel Faria, Poesia
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10 dezembro, 2014
09 dezembro, 2014
Marcel Proust
Certos espíritos amantes do mistério pretendem que os objectos conservam qualquer coisa dos olhos que os viram, que os monumentos e os quadros só nos aparecem sob o véu sensível que lhes foi tecido pelo amor e pela contemplação de tantos adoradores, ao longo de muitos séculos. Esta quimera seria verdadeira se a transpusessem para o domínio da realidade exclusiva de cada um, para o domínio da sua sensibilidade própria. Sim, nesse sentido, e apenas nesse sentido (mas que é muito maior), uma coisa que em tempos observámos, se tornarmos a vê-la, traz-nos, juntamente com o olhar que nela poisámos, todas as imagens que então o enchiam. É que as coisas - um livro como outro qualquer sob a sua capa vermelha -, logo que vistas por nós, tornam-se em nós algo de imaterial, da mesma natureza de todas as nossas preocupações ou das nossas sensações desse tempo, e misturam-se indissoluvelmente com elas.
Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, volume 2
08 dezembro, 2014
Com a tua letra
Porque eu amo-te,
quer dizer, estou atento
às coisas regulares e
irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.
Porque eu amo-te,
isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.
Fernando Assis Pacheco, A Musa Irregular
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07 dezembro, 2014
06 dezembro, 2014
Apesar das visitas
Breves do pavor
A beleza é tudo
O que permanece
Matilde Campilho, Jóquei
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04 dezembro, 2014
Caminho rapidamente por entre estrias de luz e escuridão lançadas
debaixo de uma arcada.
Sou uma mulher na força da vida, com certos poderes
e esses poderes severamente limitados
por autoridades cujas caras raramente vejo.
Sou uma mulher na força da vida
que conduz o seu poeta morto num Rolls-Royce preto
por uma paisagem de crepúsculos e espinhos.
Uma mulher com uma certa missão,
a qual, se cumprida à letra, a deixará intacta.
Uma mulher com nervos de pantera
uma mulher com contactos com os Hells's Angels
uma mulher que sente a plenitude dos seus poderes
no preciso momento em que não os pode usar
uma mulher que jurou lucidez
que vê por entre a desordem, por entre os fogos fumarentos
destas ruas subterrâneas
o seu poeta morto aprendendo a andar para trás contra o vento
do lado errado do espelho
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem
debaixo de uma arcada.
Sou uma mulher na força da vida, com certos poderes
e esses poderes severamente limitados
por autoridades cujas caras raramente vejo.
Sou uma mulher na força da vida
que conduz o seu poeta morto num Rolls-Royce preto
por uma paisagem de crepúsculos e espinhos.
Uma mulher com uma certa missão,
a qual, se cumprida à letra, a deixará intacta.
Uma mulher com nervos de pantera
uma mulher com contactos com os Hells's Angels
uma mulher que sente a plenitude dos seus poderes
no preciso momento em que não os pode usar
uma mulher que jurou lucidez
que vê por entre a desordem, por entre os fogos fumarentos
destas ruas subterrâneas
o seu poeta morto aprendendo a andar para trás contra o vento
do lado errado do espelho
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem
Adrienne Rich
Atirando com a cafeteira para o lava-louça
ela ouve os anjos a repreender, e olha para lá
dos quintais amanhados para o céu desleixado.
Só há uma semana Eles disseram, Não tenhas paciência.
A seguir foi, Sê insaciável.
Depois, Salva-te a ti própria, outros não podes salvar.
Por vezes ela deixa que a água da torneira lhe escalde o braço,
que um fósforo lhe arda até à unha,
Ou põe a mão por cima do focinho da chaleira
precisamente no vapor enovelado. Se calhar são anjos,
já que nada mais a magoa agora, excepto
o saibro das manhãs a soprar-lhe os olhos.
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem
ela ouve os anjos a repreender, e olha para lá
dos quintais amanhados para o céu desleixado.
Só há uma semana Eles disseram, Não tenhas paciência.
A seguir foi, Sê insaciável.
Depois, Salva-te a ti própria, outros não podes salvar.
Por vezes ela deixa que a água da torneira lhe escalde o braço,
que um fósforo lhe arda até à unha,
Ou põe a mão por cima do focinho da chaleira
precisamente no vapor enovelado. Se calhar são anjos,
já que nada mais a magoa agora, excepto
o saibro das manhãs a soprar-lhe os olhos.
Adrienne Rich, Uma Paciência Selvagem
Ernest Bieler, Mountain Landscape, 1896 |
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03 dezembro, 2014
Exposto
É Dezembro em Wicklow:
Os amieiros gotejam, as bétulas
Vão herdando a última luz,
O freixo enregela-nos só de olhar.
Deveria poder ver-se ao sol-pôr
Um cometa que se perdera,
Aqueles milhões de toneladas de luz
Reluzindo como bagas de espinheiro e de roseira,
E por vezes vejo uma estrela cadente.
Se deparasse com um meteorito!
Em vez disso caminho sobre folhas húmidas,
Cascas, os despojos do outono,
Imaginando um herói
Na lama de um complexo penal,
O seu dom como a pedra de uma funda
Lançada pela causa dos desesperados.
Como cheguei a este ponto?
Penso amiúde nos conselhos
Belos e prismáticos dos meus amigos
E nas mentes de bigorna de alguns que me odeiam
Enquanto me sento pesando e sopesando
Os meus versos de tristeza responsável.
E porquê? Pelo prazer? Pelo povo?
Pelo que se diz nas nossas costas?
A chuva escorre dos amieiros,
As suas vozes pouco sonoras
Sussurram sobre decepções e erosões,
E contudo cada gota relembra
Os absolutos de diamante.
Nem prisioneiro nem informador,
Sou um emigrado interno, de cabelo crescido,
Pensativo; um revoltoso rústico
Fugido ao massacre,
Usando como escudo as cores
De tronco e casca de árvores, exposto
A cada rajada de vento;
Eu, que ao atiçar estas centelhas
Procurando o seu escasso calor,
Perdi o prodígio que se vê uma vez só,
A cintilação rósea do cometa.
Seamus Heaney; Da Terra à Luz
É Dezembro em Wicklow:
Os amieiros gotejam, as bétulas
Vão herdando a última luz,
O freixo enregela-nos só de olhar.
Deveria poder ver-se ao sol-pôr
Um cometa que se perdera,
Aqueles milhões de toneladas de luz
Reluzindo como bagas de espinheiro e de roseira,
E por vezes vejo uma estrela cadente.
Se deparasse com um meteorito!
Em vez disso caminho sobre folhas húmidas,
Cascas, os despojos do outono,
Imaginando um herói
Na lama de um complexo penal,
O seu dom como a pedra de uma funda
Lançada pela causa dos desesperados.
Como cheguei a este ponto?
Penso amiúde nos conselhos
Belos e prismáticos dos meus amigos
E nas mentes de bigorna de alguns que me odeiam
Enquanto me sento pesando e sopesando
Os meus versos de tristeza responsável.
E porquê? Pelo prazer? Pelo povo?
Pelo que se diz nas nossas costas?
A chuva escorre dos amieiros,
As suas vozes pouco sonoras
Sussurram sobre decepções e erosões,
E contudo cada gota relembra
Os absolutos de diamante.
Nem prisioneiro nem informador,
Sou um emigrado interno, de cabelo crescido,
Pensativo; um revoltoso rústico
Fugido ao massacre,
Usando como escudo as cores
De tronco e casca de árvores, exposto
A cada rajada de vento;
Eu, que ao atiçar estas centelhas
Procurando o seu escasso calor,
Perdi o prodígio que se vê uma vez só,
A cintilação rósea do cometa.
Seamus Heaney; Da Terra à Luz
02 dezembro, 2014
Vigésimo segundo
{em memória de Elisabete George Rodrigues}
{em memória de Elisabete George Rodrigues}
Revejo os ciprestes do cemitério {à direita de casa}, As
alas do xadrez onde andava à escola, As sardinheiras
à porta da tabacaria {cigarros avulso e esferográficas}.
Desse tempo entre ciprestes e acácias, revejo a avó
revestida em pele de cera e já viúva, a ver-me subir as escadas,
muda, longânime, espelhando a evidência de me saber
inconforme, externo, a qualquer vereda.
alas do xadrez onde andava à escola, As sardinheiras
à porta da tabacaria {cigarros avulso e esferográficas}.
Desse tempo entre ciprestes e acácias, revejo a avó
revestida em pele de cera e já viúva, a ver-me subir as escadas,
muda, longânime, espelhando a evidência de me saber
inconforme, externo, a qualquer vereda.
Frederico Mira George; O Veneno Solitário
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01 dezembro, 2014
(...)
Não desistiremos de explorar
E o fim de toda a nossa exploração
Será chegarmos ao lugar de onde partimos
E conhecer o lugar pela primeira vez.
Através do portão desconhecido e lembrado
Quando o último confim da terra por descobrir
For o lugar que foi o começo;
Na nascente do rio mais longo
A voz da oculta queda-de-água
E as crianças na macieira
Desconhecidas, porque nunca procuradas
Mas ouvidas, meio ouvidas, na quietação
Entre duas ondas do mar.
Depressa agora, aqui, agora, sempre -
Uma condição de completa simplicidade
(Que não custa menos do que tudo)
E tudo há-de ficar bem e
Toda a espécie de coisa há-de ficar bem
quando as línguas do fogo refluírem
Para o coroado nó de fogo
E o fogo e a rosa forem um.
T.S.Eliot, Quatro Quartetos
Não desistiremos de explorar
E o fim de toda a nossa exploração
Será chegarmos ao lugar de onde partimos
E conhecer o lugar pela primeira vez.
Através do portão desconhecido e lembrado
Quando o último confim da terra por descobrir
For o lugar que foi o começo;
Na nascente do rio mais longo
A voz da oculta queda-de-água
E as crianças na macieira
Desconhecidas, porque nunca procuradas
Mas ouvidas, meio ouvidas, na quietação
Entre duas ondas do mar.
Depressa agora, aqui, agora, sempre -
Uma condição de completa simplicidade
(Que não custa menos do que tudo)
E tudo há-de ficar bem e
Toda a espécie de coisa há-de ficar bem
quando as línguas do fogo refluírem
Para o coroado nó de fogo
E o fogo e a rosa forem um.
T.S.Eliot, Quatro Quartetos
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