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Ana Tecedeiro, Sei como te sentes, Bordado sobre gravura encontrada, 2013 |
Cada vez escrevo / produzo menos, mas o pouco
que produzo requer tempo. Requer toda a minha disponibilidade, toda a minha
paixão. Não posso continuar com coisas exteriores à minha escrita a
perturbarem-me. Tenho de avançar rapidamente com o projecto que me obceca há
muito. O tempo faz-se escasso.
Faz um frio de partir os ossos. Os dias cheios dum
sol espantoso, uma limpidez que se vê a costa até ao Cabo Sardão. Às vezes
desejaria ter sido pastor, homem transumante. Ir e regressar, com o sol e com
as chuvas, ir e regressar sempre com o ciclo das estações…
Fiz 36 anos, hoje, acabaram-se para sempre algumas
coisas, outras iniciam-se agora, só a juventude não se recomeça nem tem início
hoje… Tenho de começar a habituar-me à grande desolação dos dias, sempre mais
vazios, sem ninguém, porque assim o quis.
A partir de hoje tenho o tempo todo para escrever,
para não fazer nada, envelhecerei calmamente. Tenho a certeza. Não há tempo,
ainda bem!
Al Berto, Diários, Assírio e Alvim