19 fevereiro, 2015

Jean e José

Não assombra a sua casa quem quer. É preciso haver tempestade e incêndio.

Jean Cocteau, Visão Invisível, trad. Aníbal Fernandes

José Augusto Castro, work in progress, 2015

18 fevereiro, 2015

Vestes


Dentro de um caixote ou dentro de um móvel de ébano precioso vou pôr a guardar as vestes da minha vida.
As roupas azuis. E depois as vermelhas, as mais belas de todas. E a seguir as amarelas. E por fim de novo as azuis, mas muito mais desbotadas estas últimas do que as primeiras.

Konstandinos Kavafis, Poemas e Prosas,  (trad. Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis)

Da Imaginação até ao Papel

CT, (...antes de partir para lisboa com o grego)18 fev 2015 



















OS NAVIOS


Da Imaginação até ao Papel. É uma difícil passagem, é um perigoso mar. A distância parece curta à primeira vista, e embora seja assim quão longa viagem é, e quão prejudicial por vezes para os navios que a empreenderam.
O primeiro prejuízo provém da natureza assaz frágil das mercadorias que os navios transportam. Nos mercados da Imaginação a maior parte das coisas e as melhores são fabricadas de vidros finos e de cerâmicas transparentes, e com todo o cuidado do mundo muitas se partem no caminho, e muitas se partem quando as desembarcam para terra. E todo o prejuízo deste género é sem remédio, porque é impensável que o navio volte atrás para recolher coisas da mesma forma. Não há hipótese de encontrar a mesma loja que as vendia. Os mercados da Imaginação têm lojas grandes e luxuosas mas não de duração longa. As suas transacções são curtas, arrematam as suas mercadorias rapidamente e liquidam de seguida. É muito raro um navio voltar a encontrar os mesmos exportadores com os mesmos géneros.
Um outro prejuízo provém da capacidade dos navios. Partem dos portos dos continentes prósperos sobrecarregados, e depois quando se encontrarem em alto mar vêem-se obrigados a deitar fora parte da carga para salvar o todo. De tal modo que quase nenhum navio consegue levar completos tantos tesouros quantos recolheu. As coisas despejadas são obviamente os géneros de menor valia, mas por vezes acontece que os marinheiros, na sua grande pressa, cometem erros e deitam ao mar objectos preciosos. (...)

Konstandinos Kavafis, Poemas e Prosas,  (trad. Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis)

17 fevereiro, 2015

mais duas vezes Octavio Paz



De súbito chega a palavra amêndoa

(...)
Há jardins onde o próprio vento se demora
Para se ouvir correr entre as folhas
Falam com voz tão clara os açudes
Que se vê através das suas palavras
Ergue o jasmim sua torre imaculada
De súbito chega a palavra amêndoa
Meus pensamentos deslizam como água
Imóvel vejo-os afastarem-se entre os choupos
Frente à noite idêntica alguém que não conheço
Também os pensa e os vê perderem-se.

Octavio Paz, Antologia Poética (Liberdade sob Palavra), trad. Luís Pignatelli

contempla-te em mim que te contemplo.

Tudo o que brilha na noite,
colares, olhos, astros,
serpentinas de fogos de cores,
brilha em teus braços de rio que se curva,
em teu pescoço de dia que desperta.

A fogueira que acendem na floresta,
o farol de pescoço de girafa,
o olho, girassol da insónia,
cansaram-se de esperar e perscrutar.

Apaga-te
para brilhar não há como os olhos que nos vêem:
contempla-te em mim que te contemplo.
Dorme,
veludo de bosque,
musgo onde reclino a cabeça.

A noite com ondas azuis vai apagando estas palavras,
escritas com mão volúvel na palma do sonho.

Octavio Paz, Antologia Poética (Liberdade sob Palavra), trad. Luís Pignatelli

Não te afronte tanta pequena cicatriz luminosa:

A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde cantam as letras,
palavras que são árvores,
frases que são verdes constelações.

Deixa que minhas palavras,ó branca, desçam e te cubram
como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Braços, cintura, pescoço, seios,
a fronte pura como o mar,
a nuca de bosque no outono,
os dentes que mordem um fio de erva.

Teu corpo constela-se de signos verdes
como o corpo da árvore de rebentos.
Não te afronte tanta pequena cicatriz luminosa:
olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.

Octavio Paz, Antologia Poética (Liberdade sob Palavra), trad. Luís Pignatelli

13 fevereiro, 2015

O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe.



Rainer Maria Rilke, Cartas a Um Jovem Poeta

10 fevereiro, 2015

CT, s/d

CT, 9 fev 2015

09 fevereiro, 2015

Li Bai

Se regressares através da Garganta do Rio Azul,
Por favor, não te esqueças de me avisar.
Para que eu possa ir ao teu encontro
Tal é a minha ânsia 
De te abraçar, que não me metem medo o vento de areia,
Nem a distância.

Li Bai, Qual é a Minha e a Tua Língua
  À querida memória de Antónia

CT, 9 fev 2015

04 fevereiro, 2015

A condição para saber ver ao longe é estarmos dentro de nós se se trata do próprio, ou de ter renunciado a si mesmo se se trata dos outros.

Almada Negreiros, Nome de Guerra

Merce Cunningham

Merce Cunninghan Dance Company, Beach Birds, 1993

03 fevereiro, 2015

Ben Vautier, 1936







Ben Vautier

Ben Vautier, Total Art Match-Box, 1965

02 fevereiro, 2015

Alice Hutchins, Group 2, Model A, 1968
























Alice Hutchins, Portal, 1975

Alice Hutchins, Night and Day, 1977
























Alice Hutchins

Alice Hutchins
Fluxus

31 janeiro, 2015

Alice Hutchins

Alice Hutchins, Sel-portrait (Passport Retouch), 1966