André Kertész |
15 junho, 2016
14 junho, 2016
13 junho, 2016
Antónia
Como podem comprovar, conheci a minha mãe exactamente durante o mesmo tempo em que ela me conheceu a mim. Apesar da diferença de idades, em todos os momentos em que ela esteve na minha presença eu estive na presença dela. Não existiu um segundo em que ela estivesse comigo sem a minha presença.
Ainda é assim.
FMG, 13 de junho de 2016
The Brockhaus and Efron Encyclopedic Dictionary |
Antónia
CT, A, junho 2016 |
É então que um grande silêncio cai sobre
os trinta quilómetros quadrados da ilha. Ou vem das coisas, do interior das
coisas. É um silêncio extremamente doce, um equilíbrio supremo. A ilha adquire
uma grave e grandiosa imobilidade. E a luz entra e sai pelas coisas, como se
elas fossem esponjas. As mãos ficam muito nuas. É dos olhos que primeiro
desaparece o sono. E da boca. De cada parte do corpo, lentamente, de todas as
partes, até que as pessoas se abram totalmente.
Como numa ressurreição.
Herberto Helder, Photomaton & Vox
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12 junho, 2016
procuro tudo isso no mapa
CT, Blue Velvet, junho 2016 |
Procuro tudo isso no mapa, com um dedo um tanto impreciso, porque inquieto - num mapa para crianças, como tenho de confessar desde já.
Não se encontra nenhum desses lugares, eles não existem, mas eu sei, sobretudo agora sei, onde eles deviam estar...
Paul Celan, Arte Poética
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09 junho, 2016
it is a serious thing
08 junho, 2016
31 maio, 2016
LIMALHA (The haunted arm)
CT, Limalha (the haunted arm), maio 2016
Olhamos para o corpo e o corpo termina de repente nos pés, nas mãos. Acaba ali. Não há mais nada à frente, parece uma escarpa de um rochedo sobre o mar. De repente, termina. Porque é que eu acabo ali e começo aqui, porque é que estou cingida a esta forma, porque é que tenho esta solidão e a solidão dos outros corpos?
Helena Almeida, Intus24 maio, 2016
orquídeas na folha branca #3
CT, desenhos de maio (orquídeas na folha branca), maio 2016
Podíamos até ser profundamente diferentes, que eu não sentia menos que qualquer coisa de fundamental nos era comum, uma espécie de ferida originária - há pouco eu falava de “experiência fundadora”: a experiência da insegurança. A natureza desta não era a mesmo em ti e em mim. Pouco importa: para ti e para mim ela significava que não tínhamos no mundo um lugar assegurado. Teríamos apenas aquele que construíssemos.
Podíamos até ser profundamente diferentes, que eu não sentia menos que qualquer coisa de fundamental nos era comum, uma espécie de ferida originária - há pouco eu falava de “experiência fundadora”: a experiência da insegurança. A natureza desta não era a mesmo em ti e em mim. Pouco importa: para ti e para mim ela significava que não tínhamos no mundo um lugar assegurado. Teríamos apenas aquele que construíssemos.
André Gorz, Carta a D., História de um Amor
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22 maio, 2016
orquídeas na folha branca
21 maio, 2016
o amor
20 maio, 2016
E.E. e as mãos e a voz e Brassaï
Olha
os meus dedos que
te tocaram
e ao teu calor e vigorosa
pequenez
-vês? não se parecem com os meus
dedos. Os meus pulsos mãos
que seguraram cuidadosamente o teu
suave silêncio (e o teu corpo
sorriso olhos pés mãos)
são diferentes
daquilo que eram. Os meus braços
em que tu toda descansas dobrada
tranquila, como uma
folha ou alguma flor
acabada de criar pela Primavera
ela mesma, não são os meus
braços. Não reconheço
como sendo eu próprio este que eu vejo diante
de mim ao espelho. não
acredito
ter visto estas coisas jamais;
alguém a quem amas
e que é mais magro
mais alto do que
eu entrou e ficou com
uns lábios como aqueles com que costumo falar,
uma nova pessoa está viva e
gesticula comigo
ou talvez sejas tu quem
com a minha voz
está
a brincar.
E.E. Cummings, Poems from the 1920's
os meus dedos que
te tocaram
e ao teu calor e vigorosa
pequenez
-vês? não se parecem com os meus
dedos. Os meus pulsos mãos
que seguraram cuidadosamente o teu
suave silêncio (e o teu corpo
sorriso olhos pés mãos)
são diferentes
daquilo que eram. Os meus braços
em que tu toda descansas dobrada
tranquila, como uma
folha ou alguma flor
acabada de criar pela Primavera
ela mesma, não são os meus
braços. Não reconheço
como sendo eu próprio este que eu vejo diante
de mim ao espelho. não
acredito
ter visto estas coisas jamais;
alguém a quem amas
e que é mais magro
mais alto do que
eu entrou e ficou com
uns lábios como aqueles com que costumo falar,
uma nova pessoa está viva e
gesticula comigo
ou talvez sejas tu quem
com a minha voz
está
a brincar.
E.E. Cummings, Poems from the 1920's
Brassaï, Pigeondre, 1934 |
15 maio, 2016
08 maio, 2016
29 abril, 2016
voyage
CT, exercícios com o olhar, 2016
Reconhecer
dois tipos de possível: o possível diurno e o possível proibido.
Tornar, se possível, o primeiro igual ao segundo; encaminhá-los na via régia do
fascinante impossível, o mais alto grau do compreensível.
René Char
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René Char
Etty Hillesum
Nova certeza: que querem o nosso extermínio. Também isso aceito. Sei-o agora. Não vou incomodar outros com os meus medos, não vou ficar amargurada se outras pessoas não entenderem do que se trata, para nós, judeus. Esta certeza não vai ser corroída ou invalidada pela outra. Trabalho e vivo com a mesma convicção e acho a vida prenhe de sentido, cheia de sentido apesar de tudo, embora já não me atreva a dizer uma coisa destas em grupo. O viver e o morrer, o sofrimento e a alegria, as bolhas nos meus pés gastos e o jasmim atrás do quintal, as perseguições, as incontáveis violências gratuitas, tudo e tudo em mim é como se fosse uma forte unidade, e eu aceito tudo como uma unidade e começo a entender cada vez melhor, espontaneamente para mim, sem que ainda o consiga explicar a alguém, como é que as coisas são. Gostava de viver longamente para no fim, mais tarde, conseguir explicar, e se isso não me for dado, pois bem, nesse caso uma outra pessoa irá fazê-lo e então um outro continuará a viver a minha vida, ali onde a minha foi interrompida, e por isso tenho de viver a minha vida tão bem e tão completa e convincentemente quanto possível até ao meu derradeiro suspiro, para que o que vem a seguir a mim não precise de começar de novo nem tenha as mesmas dificuldades.
Etty Hillesum, Diário 1941-1943
(obrigada, Graça)
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