Jim Sincock, Letting Go, 2012 |
01 outubro, 2016
30 setembro, 2016
O último poema
Saul Leiter, Autoretrato |
Assim eu quereria meu
último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manuel Bandeira
28 setembro, 2016
26 setembro, 2016
25 setembro, 2016
24 setembro, 2016
23 setembro, 2016
19 setembro, 2016
18 setembro, 2016
16 setembro, 2016
Blue J
José Sá, Maputo, set 2016 |
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,
que te
procuram.
Herberto Helder, Poesia Toda
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15 setembro, 2016
14 setembro, 2016
concentração dos metais
Quando estás ausente, a tua imagem dilata-se a ponto de preencher o universo. Adquires o estado fluido que é próprio dos fantasmas. Quando estás presente a tua imagem condensa-se; atinges a concentração dos metais mais pesados, do irídio e do mercúrio. Desfaleço sob esse peso quando ele se abate sobre o meu coração.
Marguerite Yourcenar, Fogos
Robert Motherwell, Black With No Way Out, 1983 |
Allen Ginsberg
What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for
I walked down the sidestreets under the trees with a headache
self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images, I went
into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole families
shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the
avocados, babies in the tomatoes!--and you, Garcia Lorca, what
were you doing down by the watermelons?
Allen Ginsberg
(via JS)
I walked down the sidestreets under the trees with a headache
self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images, I went
into the neon fruit supermarket, dreaming of your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole families
shopping at night! Aisles full of husbands! Wives in the
avocados, babies in the tomatoes!--and you, Garcia Lorca, what
were you doing down by the watermelons?
Allen Ginsberg
(via JS)
13 setembro, 2016
12 setembro, 2016
José Miguel Silva
Foi o dia em que um polido agente da autoridade
nos veio buscar a casa para nos interrogar.
Alguém havia assaltado o posto médico
e o medo da vizinhança apontara para nós.
Não sabíamos de nada, mas o nosso luto
(morrera-nos o mundo há pouco tempo)
dizia o contrário. Éramos muito jovens,
tínhamos a boca ferida de insultos. A nossa vida,
coitada, lia muitos livros de aventuras políticas,
sentia-se capaz, dizia, de dar a volta ao mundo
numa barca de cortiça. Não lhe demos confiança.
Após o depoimento ainda passei pela biblioteca
e à noite festejámos a libertação da nossa inocência.
Nunca mais pedimos sal aos vizinhos.
José Miguel Silva, Vista para um Pátio seguido de Desordem
11 setembro, 2016
10 setembro, 2016
I did think
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