A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é
uma arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me
pede uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do
meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade
mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem
lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e
dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me
que viva sempre que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa
e compacta.
Sophia de
Mello Breyner Andersen, Arte poética II
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