12 junho, 2019

Mark Strand

FUI UM EXPLORADOR POLAR


Na minha juventude fui um explorador polar


e passei noites e dias incontáveis gelando


de lugar vazio em lugar vazio. Por fim,


deixei de viajar e fiquei em casa,


aí cresceu em mim um repentino excesso de desejo,


como se me tivesse atravessado um resplandecente


feixe de luz daqueles que se vêem no interior de um diamante.


Enchi páginas e páginas com as visões que havia testemunhado -


os rugidos do gelo no mar, glaciares gigantes, o branco dos icebergues


chicoteado pelo vento. Então, sem nada mais para dizer, parei


e dirigi a minha atenção para o que me estava próximo. Quase ao mesmo
[tempo,


um homem de casaco negro e chapéu de aba larga


apareceu entre as árvores em frente à minha casa.


A forma como olhou a direito e ficou quieto,


sem se mover minimamente, os braços estendidos


ao longo do corpo, fizeram-me pensar que o conhecia.


Mas quando levantei a mão para o cumprimentar,


ele deu um passo atrás, voltou-se, e começou a desaparecer


como uma ânsia desaparece até que nada sobre dela.




Mark Strand




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