#5
» Quando os verões completos voltarem —
todos
Cheios de Júpiteres e navestransmarítimas, iludindo
Os de olhos postos nos maestros d’ébano altíssimos —,
Já não precisarei de cá estar. Até lá vou remoendo as
Tintas e os objectos de escrever que d’adulto
coleciono na escrivaninha oca do crânio. Vou!, mesmo que
Nem um texto, entre tanto, se revele pela inspiração que
Suplico aos génios do subvulcão que tenho na residência
Experimental dos pulmões. E do queixo. Receba eu sinal
do peixes e vou-me deste campo. «
#7
» Vesti-me de lavado com panos d’algodão
quente
Depois do banho. Meias flexíveis, cuecas que encaixam,
Meia dúzia de pequenos luxos: camisola-interior,
Cheiro a desinfecto debaixo-dos-braços, pasta nos
Dentes durante a esfrega… Os sapatos até ficam
Sofríveis com as palmilhas almofadadas a cem escudos,
Propositadamente compradas ontem, para a manhã d’hoje.
Um lugar na mesa do centro, pão-de-bico
com café,
Queque caseiro, tabaco americano {aqueles cigarros
Compridos muito em uso por damas-poeta}, e, a,
Boquilha de filtros de cristais para aliviar a convulsa
Dos pulmões. “Os fumadores morrem prematuramente” — [aviso Governamental do
Plano Nacional de Poupança contra excessos de Cuidado em casos de cancro
pulmonar ou de a laringe] —,
E a manhã corre nobilíssima, espantada de fenómenos.«
Frederico ‘W George , Psicographário Poético
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Robert Rauschenberg, Bed, 1955 |