19 dezembro, 2016

Gabriela

É estranho pintar. Teu Spinoza dir-te-ia que a sensação
Do traço se desenvolve sem harmonia nos nós da tela e 
Do teu corpo. Diferentes os traços da manhã, os do meio
Dia e os do entardecer. Até veres tua mulher de noite
Respirando a dormir entre poemas de Walt Whitman.
Seu destino é narrar o maior desejo. Seja ele silêncio,
Sono ou acção meditativa. Narrar o encontro de dois
Animais que se farejam. Narrar a vitalidade combativa,
Mesmo quando compassiva. Narrar o cérebro retraído
Dos Senhores da Guerra. Narrar a postura de teu corpo
Enquanto esperas que o olhar se disponha enfim na cena.
Narrar a ausência do humano e do seu tipo. A atmosfera
É o traço deixado.

Maria Gabriela Lhansol, O Começo de Um Livro É Precioso


Matisse recortando

Matisse, 1948

12 dezembro, 2016

Objectos do Céu Profundo 8




























CT, Objectos do Céu Profundo, colagens, novembro 2016

Tolentino

Se agitares tesouras numa fogueira
não esqueças que me feres
um avesso de lume é o meu único
segredo
no impreciso avanço das lâminas
um anjo o descobriria
Tira a faca da gaveta
mas não esqueças
se a cravares na água
com altas vagas o mar me sepultará
dentro da casa abandonada
Não lamentes serem os versos
saberes tão frágeis
as flores mais belas são as que se colhem
quando ainda se ignora a morte"


José Tolentino Mendonça,  A Noite Abre Meus Olhos (Poesia Reunida)

10 dezembro, 2016

Objectos do Céu Profundo 7





























CT, Objectos do Céu Profundo, colagens, novembro 2016

09 dezembro, 2016

um século depois

David Hockney, Gauguin's Chair, 1988

04 dezembro, 2016

You are born alone. You die alone. The value of the space in between is trust & love.

Louise Bourgeois

Louise Bourgeois, Les Fleurs, 2009

24 novembro, 2016

Objectos do Céu Profundo 6
























CT, Objectos do Céu Profundo, colagens, novembro 2016

22 novembro, 2016

Objectos do Céu Profundo 5























CT, Objectos do Céu Profundo, colagens, novembro 2016

13 novembro, 2016

ar

Once you have tasted flight, you will forever walk the earth with your eyes turned skyward, for there you have been, and there you will always long to return.

Leonardo da Vinci

12 novembro, 2016

Woody in the Sky with Mum

Frederico Mira George, Woody in the Sky with Mum, 2016



10 novembro, 2016

Saul e Sophia

Saul Leiter, Boy, 1960













Como é estranha a minha liberdade

As coisas deixam-me passar
Abrem alas de vazio para que eu passe
Como é estranho viver sem alimento
Sem que nada em nós precise ou gaste
Como é estranho não saber.


Sophia de Mello Breyner Andersen, Antologia


two sisters

Cornelis de Vos, Two Sisters,c.1610-1615

03 novembro, 2016

luz

Wayne Thiebault

28 outubro, 2016

o mundo inteiro depende dos teus olhos



A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.


Paul Eluard, Algumas das Palavras (trad. António Ramos Rosa )


George Hendrik Breitner, Girl in a Red Kimono, c.1893-95