Kiki Smith, Flower Head, 2012 |
07 maio, 2017
06 maio, 2017
05 maio, 2017
Ian Hamilton Finlay, Broken heartbroken, 1968 |
... o que é preciso é alguém para abrir as janelas que não há...
Cruzeiro Seixas, Desaforismos (Perfecto E.Quadrado, A Única Real Tradição Viva)
Etiquetas:
Cruzeiro Seixas,
I,
oxigénio,
poesia,
poesia portuguesa,
poesia visual
03 maio, 2017
01 maio, 2017
e aquele que espia o perfume
José Pinto de Sá, Maputo, 2016 |
X
Escolhe um grande chapéu cuja aba seduzamos. O olho recua um século nas províncias da alma. Pela porta de cré vivo vêem-se as coisas da planície: coisas vivas, ó coisas
excelentes!
(...)
muitas coisas sobre a terra para escutar e para ver, coisas vivas entre nós!
festas de comemoração ao ar livre para os aniversários das grandes árvores e cerimónias públicas em honra de um charco; consagrações de pedras negras, perfeitamente redondas, invenções de nascentes em lugares mortos, sagrações de tecidos na ponta das varas à aproximação dos desfiladeiros, (...)
muitas outras coisas ainda à altura das nossas têmporas: os curativos dos animais nos arrabaldes, as sublevações da multidão ao encontro dos tosquiadores, dos poceiros e dos capadores; as especulações na aragem das colheitas e a ventilação do feno na ponta das forquilhas sobre os telhados; as construções de cercas de terracota rosada, (...)
ah! todo o tipo de homens nas suas maneiras e feitios: comedores de insectos, de frutos de água; portadores de emplastros, de riquezas! (...) e o homem de nenhum ofício: homem do falcão, homem da flauta, homem das abelhas; aquele que extrai o seu prazer do timbre da sua voz, aquele que descobre a sua utilidade na contemplação de uma pedra verde; que faz arder para seu prazer um fogo de cortiças no telhado; que faz um leito de folhas odoríferas sobre a terra, e nele se deita e repousa; que pensa em desenhos de cerâmicas verdes para bacias de águas vivas; e aquele que andou em viagens e sonha voltar a partir; que viveu num país de grandes chuvadas;(...) aquele que tem opiniões acerca da utilização de uma cabaça; (...) aquele que recolhe o pólen num vaso de madeira (e o meu prazer, diz ele, está nesta cor amarela); aquele que come fritos, vermes das palmeiras, framboesas; aquele que adora o sabor do estragão; aquele que sonha com um pimento; (...) e aquele que espia o perfume do génio nas fendas recentes da pedra; (...)
Saint-John Perse, Habitarei o Meu Nome (trad. João Moita)
Etiquetas:
J,
José Pinto de Sá,
oxigénio,
poesia,
Saint-John Perse
30 abril, 2017
27 abril, 2017
A mí me han dado un silencio
pleno de formas y visiones
Alejandra Pizarnik
pleno de formas y visiones
Alejandra Pizarnik
CT, abril 2017 |
Etiquetas:
Alejandra Pizarnik,
Cristina Tavares,
Elas,
poesia
25 abril, 2017
CT, abril 2017
Não sei como dizer-te
que minha voz te procura
e a atenção começa a
florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer,
quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho
precioso
e estremeces como um
pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o
centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um
tempo distante,
e na terra crescida os
homens entoam a vindima
— eu não sei como
dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te
procuram.
Herberto Helder, A
Colher na Boca
Etiquetas:
Cristina Tavares,
Herberto Helder,
oxigénio,
poesia,
poesia portuguesa
24 abril, 2017
18 abril, 2017
nascer em desaparecimento
Edouard Vuillard, Au Théâtre, 1892 |
É preciso a humildade para aceitar o humano: a sua condição
primeira de que se nasce em desaparecimento. As imagens, a procura são o
diálogo com esse desaparecimento.
Maria Gabriela Lhansol
Etiquetas:
E,
Elas,
Maria Gabriela Llansol,
oxigénio,
poesia,
poesia portuguesa
17 abril, 2017
15 abril, 2017
Alberto Carneiro (1937-2017)
Alberto Carneiro, 2013 |
A natureza sonha nos meus olhos desde a infância. Quantas vezes adormeci entre as ervas? A minha primeira casa foi em cima da cerejeira que hoje é uma escultura. Entre o meu corpo e a terra houve sempre uma identidade profunda. A floresta ou a montanha que eu trabalho num tronco de árvore ou num bloco de pedra fazem parte integrante do meu ser.
~~
Uma nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos, através duma memória que tem a idade do homem. Não a pedra pelo seu lado externo, pela conversão dos seus valores formais, mas pelas qualidades do seu íntimo, pelo cosmos que está nela e o qual nos é dado possuir na simplicidade em que a coisa vive.
~~
Uma nuvem, uma árvore, uma flor, um punhado de terra situam-se no mesmo plano estético em que nos movemos, são parte integrante do nosso mundo, são um manancial de sensações vindas de todos os tempos, através duma memória que tem a idade do homem. Não a pedra pelo seu lado externo, pela conversão dos seus valores formais, mas pelas qualidades do seu íntimo, pelo cosmos que está nela e o qual nos é dado possuir na simplicidade em que a coisa vive.
Alberto Carneiro
12 abril, 2017
06 abril, 2017
Jesús Jiménez Domínguez
Amamos as coisas redondas e pensamos
que vão ser eternas amáveis e perfeitas:
a toranja debaixo do rotundo sol de agosto,
a pulseira que orbita em volta do pulso,
a moeda com duas faces e nenhuma cruz,
a bola de praia em cujo interior que ainda se respira
um ar paciente de mil novecentos e oitenta e dois.
que vão ser eternas amáveis e perfeitas:
a toranja debaixo do rotundo sol de agosto,
a pulseira que orbita em volta do pulso,
a moeda com duas faces e nenhuma cruz,
a bola de praia em cujo interior que ainda se respira
um ar paciente de mil novecentos e oitenta e dois.
Há dias redondos em que tudo se encaixa
e a vida parece andar sobre rodas:
alguém, de lixa na mão, encarregou-se
de subtrair ao mundo todas as esquinas,
todas as arestas, todas as bordas.
e a vida parece andar sobre rodas:
alguém, de lixa na mão, encarregou-se
de subtrair ao mundo todas as esquinas,
todas as arestas, todas as bordas.
Mas basta que atravesses um declive
ou que tudo se volte, de repente, para cima,
para verificar que são as coisas redondas
as primeiras a sair e a começar a correr:
a toranja, a pulseira, a moeda e a bola.
ou que tudo se volte, de repente, para cima,
para verificar que são as coisas redondas
as primeiras a sair e a começar a correr:
a toranja, a pulseira, a moeda e a bola.
Eu recuso-me redondamente a aceitar tais desplantes.
Às formas esféricas eu oponho as coisas informes.
Escolho as imperfeitas, as imprecisas, as irregulares.
Aquelas cheias de defeitos, amolgadelas ou dobras.
Bonitas e originais, sem se sujeitarem a nenhum centro,
só elas permanecem e nos acompanham sempre.
Às formas esféricas eu oponho as coisas informes.
Escolho as imperfeitas, as imprecisas, as irregulares.
Aquelas cheias de defeitos, amolgadelas ou dobras.
Bonitas e originais, sem se sujeitarem a nenhum centro,
só elas permanecem e nos acompanham sempre.
Jesús Jiménez Domínguez, Ensinar o Eco a Cantar
04 abril, 2017
03 abril, 2017
02 abril, 2017
Kunié Sugiura
01 abril, 2017
Assinar:
Postagens (Atom)