13 julho, 2019

Flower Head

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Kiki Smith, Flower Head ,2012

Mario Benedetti (defender a alegria)

Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas

defender a alegria como um princípio
defendê-la do pasmo e dos pesadelos
dos neutrais e dos neutrões
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos

defender a alegria como uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingénuos e dos canalhas
da retórica e das paragens cardíacas
das endemias e das academias

defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e da angústia
da obrigação de estarmos alegres

defender a alegria como uma certeza
defendê-la da ferrugem e da sarna
da famosa pátina do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso

defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos apelidos e das lástimas
do acaso
e também da alegria.


Mario Benedetti, em Lacre (traduções e versões de Vasco Gato)



11 julho, 2019

no words for






Cristina Tavares, 2019





I found I could say things with color and shapes that I couldn’t say any other way – things I had no words for. 

Georgia O’Keeffe

08 julho, 2019

Joan, Marc e Jacques

Joan Miró, Marc Chagall e Jacques Prévert

04 julho, 2019

Daniel Bellet

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Daniel Bellet , Fun Walks Through Science,1905

 
Olhai, meus irmãos! Não vedes o arco-íris...

Nietzsche, Assim Falava Zaratrusta


02 julho, 2019

Henry Moore

Henry Moore, Reclining Figure, 1979

30 junho, 2019

Georges Braque

Brassaï, Georges Braque no atelier da Rue du Daumier, Paris, 1946


Felix Valloton

Felix Valloton, Le Rayon, 1909

12 junho, 2019

Mark Strand

FUI UM EXPLORADOR POLAR


Na minha juventude fui um explorador polar


e passei noites e dias incontáveis gelando


de lugar vazio em lugar vazio. Por fim,


deixei de viajar e fiquei em casa,


aí cresceu em mim um repentino excesso de desejo,


como se me tivesse atravessado um resplandecente


feixe de luz daqueles que se vêem no interior de um diamante.


Enchi páginas e páginas com as visões que havia testemunhado -


os rugidos do gelo no mar, glaciares gigantes, o branco dos icebergues


chicoteado pelo vento. Então, sem nada mais para dizer, parei


e dirigi a minha atenção para o que me estava próximo. Quase ao mesmo
[tempo,


um homem de casaco negro e chapéu de aba larga


apareceu entre as árvores em frente à minha casa.


A forma como olhou a direito e ficou quieto,


sem se mover minimamente, os braços estendidos


ao longo do corpo, fizeram-me pensar que o conhecia.


Mas quando levantei a mão para o cumprimentar,


ele deu um passo atrás, voltou-se, e começou a desaparecer


como uma ânsia desaparece até que nada sobre dela.




Mark Strand




31 maio, 2019

Julius Bissier

Julius Bissier, 6.maio.1963

18 maio, 2019

Ana Cristina César


Ana Cristina César





















O HOMEM PÚBLICO N. 1

Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda


Ana Cristina César, A Teus Pés, 1982

Ana Cristina César

FLORES DO MAIS

devagar escreva
uma primeira letra
escreva
na imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais


Ana Cristina César, Inéditos e Dispersos, 1998


Conceição Lima

O VENDEDOR

Os olhos vagalumem como pirilampos
no encalço dos fregueses
Do fio que é a mão esvoaçam
sacos de plástico
precários, multicores balões

A Feira do Ponto é o seu pátio.

Ao fim do dia, parcimonioso,
devolve a bolsa das moedas a um adulto
e recupera a idade.


Conceição Lima, A Dolorosa Raiz do Micondó

Conceiçao Lima

Há-de nascer de novo o micondó - 
belo, imperfeito, no centro do quintal

Conceição Lima, A Dolorosa Raiz do Micondó


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé, oceano, céu, praia, ar livre, água e natureza 
Sophia de Mello Breyner Andresen e Conceição Lima,
em S. Tomé (autor? data?)

06 maio, 2019

Matisse

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Henri Matisse, Venus, 1952




Matisse

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Henri Matisse, H, 1937-38

24 abril, 2019

Pisanello

Pisanello, Cabeça de cão, Códice Vallardi, 1433-36

19 abril, 2019

Rui Knopfli

Entretanto, num levedar de ternura,
frágil e muito bela a vida desponta
na negra polpa de outros dedos.
Para nós, o prémio do aço,
a estrela de pólvora, a comenda do fogo.
Para nós a consolação do sorriso triste
e da amargura sabida. Falamo-nos
e nas palavras mais comuns
há rituais de despedida. Falamos 
e as palavras que dizemos
dizem adeus.

Rui Knopfli, Máquina de Areia


15 abril, 2019

Raul de Carvalho

Nada de inúteis palavras apenas proferidas pela língua.
O riso deve ter um alvo.
A lágrima deve ter um rio comum onde se deite e corra.
A raiva deve adormecer satisfeita.
A crítica deve atingir os seus fins.
O sono deve acordar a tempo.
O sonho deve saber onde está e o que quer.
E dividir com alguém o sacrifício, a espera,
a desilusão, a esperança, o receio
da morte e o caminho da vida.
As palavras devem permanecer juntas e unidas
no coração dos homens:
Aqueles que estão prontos
A, não acreditando nelas,
Serem capazes de morrer por elas.
E pelos outros.

Raul de Carvalho, Um E O Mesmo Livro

13 abril, 2019

Testemunhas

Cristina Tavares,  da série Testemunhas, 2018

Cristina Tavares, da série Testemunhas, 2018






































De Abril a Setembro de 2018,
expostas em STUDIOLO XXI desenho e afinidades,
Centro de Arte e Cultura, Fundação Eugénio de Almeida, Évora