17 janeiro, 2015

António Maria Lisboa

Abrir-se a janela para entrarem estrelas 
abrir-se a luz para entrarem olhos 
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala 
e depois ruidosa uma dentadura velha 
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro 

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata. 

António Maria Lisboa, Poesia

16 janeiro, 2015

Ana Tecedeiro e Al Berto

Ana Tecedeiro, Sei como te sentes, Bordado sobre gravura encontrada, 2013



















      


        Cada vez escrevo / produzo menos, mas o pouco que produzo requer tempo. Requer toda a minha disponibilidade, toda a minha paixão. Não posso continuar com coisas exteriores à minha escrita a perturbarem-me. Tenho de avançar rapidamente com o projecto que me obceca há muito. O tempo faz-se escasso.

      Faz um frio de partir os ossos. Os dias cheios dum sol espantoso, uma limpidez que se vê a costa até ao Cabo Sardão. Às vezes desejaria ter sido pastor, homem transumante. Ir e regressar, com o sol e com as chuvas, ir e regressar sempre com o ciclo das estações…
      Fiz 36 anos, hoje, acabaram-se para sempre algumas coisas, outras iniciam-se agora, só a juventude não se recomeça nem tem início hoje… Tenho de começar a habituar-me à grande desolação dos dias, sempre mais vazios, sem ninguém, porque assim o quis.
     A partir de hoje tenho o tempo todo para escrever, para não fazer nada, envelhecerei calmamente. Tenho a certeza. Não há tempo, ainda bem!


Al Berto, Diários, Assírio e Alvim

15 janeiro, 2015

Grace Hartigan

Grace Hartigan, Black Crows (Oranges nº1), 1958

Grace Hartigan

Somos uma tempestade sob o crânio de um surdo

(...)
"Dis, Blaise, sommes-nous bien loin de Montmartre?"

E nos buracos,
As rodas vertiginosas as bocas as vozes
E os cães malditos que uivam no nosso encalço
Os demónios andam à solta
Ferragens
É tudo um acorde falso
O brum-rum-rum das rodas
Choques
Saltos
Somos uma tempestade sob o crânio de um surdo...

(...)

Blaise Cendrars, Poesia em Viagem, Assírio e Alvim


14 janeiro, 2015

Eugenio Montale

A Enguia

A enguia, a sereia
dos mares frios que abandona o Báltico
para alcançar os nossos litorais,
os nossos estuários, os rios
que remonta pelo fundo da corrente adversa
de braço em braço, depois
de cabelo em cabelo, adelgaçando
cada vez mais dentro, sempre
mais no coração da pedra, insinuando-se
entre o borbulhar do lodo até que um dia
a luz rompendo os castanheiros
enche-a de chispas nos charcos de água morta,
das valas baixando
pelas escarpas dos Apeninos à Romanha;
a enguia, archote, látego
flecha de Amor em terra
que só os nossos barrancos ou os secos
riachos pirenaicos reconduzem
a paraísos de fecundação;
alma verde que procura
vida lá onde apenas
o ardor morde e a secura,
a cintilação que diz:
tudo começa quando já parece
carbonizar-se, tronco sepultado;
íris breve, gémea
daquela que engastam tuas pestanas
e fazes brilhar intacta entre os filhos
do homem, imersos no teu lodo - podes tu
não a crer tua irmã?

Eugenio Montale, Rosa do Mundo

13 janeiro, 2015

Francis Picabia

Francis Picabia, L'Oeil Cacodylate, 1921

12 janeiro, 2015

Emily e Joan

Enviamos a Onda ao encontro da Onda -
Uma Missão tão divina,
O Mensageiro também enamorado,
Esquecendo-se de voltar,
E temos a sábia percepção ainda,
Embora feita em vão,
O momento mais sensato para deter o mar é quando o mar já partiu -

Emily Dickinson, Esta É A Minha Carta Ao Mundo e Outros Poemas


Joan Miró, 1925

11 janeiro, 2015

António e Harry

Tudo é vago, tudo é irmão do vento, tudo é informulável.
Se escrevesse as palavras poderiam ser lâmpadas de pólen. 
Antonio Ramos Rosa

Harry Callahan, Eleanor, Chicago,1954

10 janeiro, 2015

Grete Stern

Grete Stern, Autoretrato, Buenos Aires, 1970


Grete Stern, Sueño nº29: s/ título, 1949

Grete Stern, Sueño nº35: s/título, 1949

Grete Stern, Sueño nº20: Perspectiva, 1949

09 janeiro, 2015

Maurice de Vlaminck

Maurice de Vlaminck, La Seine a Chatou, 1905

08 janeiro, 2015

Harry Callahan

Harry Callahan, Cape Cod, 1972


Harry Callahan, Study,1948

Sylvia Plath

The frost makes a flower, 
the dew makes a star.


Sylvia Plath

07 janeiro, 2015

Minor White, Essence of Boat, Lanesville, 1967

06 janeiro, 2015

John Baldessari


John Baldessari,
Person on Bed (Blue) and Large Shadow (Orange ) and Lamp (Green)
2004

John Baldessari, Arm and Pillow, 2010

05 janeiro, 2015

T.S.Eliot e Virginia Woolf

T.S.Eliot e Virginia Woolf

T.S.Eliot

Haverá por certo um tempo
Para o fumo amarelo que desliza pela rua
E esfrega as costas na vidraça;
Haverá um tempo, tempo 
De compor um rosto para olhares os rostos que te olharem;
Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar o chá e a torrada.

T.S.Eliot; A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock

04 janeiro, 2015

Cada um está só sobre o coração da terra
Trespassado por um raio de sol:
E de repente é noite.

Salvatore Quasimodo, Rosa do Mundo



02 janeiro, 2015

"Querida imaginação, o que mais amo em ti, é que tu não perdoas."

André Breton, Manifesto Surrealista