11 junho, 2017
Zbigniew Herbert
Vivo em várias épocas como um insecto no âmbar, imóvel e por isso fora do tempo, porque os meus membros não se mexem nem projectam nenhuma sombra na parede, submerso numa cave como no âmbar imóvel e por isso inexistente.
Vivo em várias épocas, imóvel mas provido de todos os movimentos, porque habito no espaço e pertenço-lhe e tudo o que é espaço concede-me o seu toque, uma forma transitória.
Vivo em várias épocas, inexistente, dolorosamente imóvel e dolorosamente móvel e na verdade desconheço o que me é dado e o que me é retirado para sempre.
Zbigniew Herbert, Escolhido pelas Estrelas (trad. Jorge de Sousa Braga)
05 junho, 2017
03 junho, 2017
Zbigniew Herbert
Ardente e lívido
Santo Inácio
passou por um jardim de rosas
e atirou-se
para cima delas
ficando todo ferido
com a campainha do seu hábito negro
queria extinguir
a beleza do mundo
que brota da terra como duma ferida
e enquanto jazia
no leito de espinhos
viu
que o sangue que lhe escorria da testa
coagulava nas suas pestanas
na forma de uma rosa
e a mão cega
que procurava os espinhos
cedia
ao doce contacto das pétalas
defraudado o santo
chorava da troça das rosas
espinhos e rosas
rosas e espinhos
todos procuramos a felicidade
Zbigniew Herbert, Escolhido pelas Estrelas (trad. Jorge de Sousa Braga)
Santo Inácio
passou por um jardim de rosas
e atirou-se
para cima delas
ficando todo ferido
com a campainha do seu hábito negro
queria extinguir
a beleza do mundo
que brota da terra como duma ferida
e enquanto jazia
no leito de espinhos
viu
que o sangue que lhe escorria da testa
coagulava nas suas pestanas
na forma de uma rosa
e a mão cega
que procurava os espinhos
cedia
ao doce contacto das pétalas
defraudado o santo
chorava da troça das rosas
espinhos e rosas
rosas e espinhos
todos procuramos a felicidade
Zbigniew Herbert, Escolhido pelas Estrelas (trad. Jorge de Sousa Braga)
02 junho, 2017
Tolentino e Kelly
o amor é uma noite a que se chega só.
José Tolentino Mendonça, A Estrada Branca
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poesia
31 maio, 2017
29 maio, 2017
28 maio, 2017
Anoto este facto, entre outros, no meu caderno, para futuras
referências. Quando for grande terei sempre comigo um espesso caderno de notas
com numerosas páginas metodicamente dispostas por ordem alfabética. Aí
escreverei as minhas notas. Na letra B, haverá por exemplo "Borboletas
brancas reduzidas a pó". Se no meu romance tiver que descrever um raio de
sol num parapeito da janela, irei ver a letra B e lá encontrarei as palavras
"Borboletas brancas reduzidas a pó". Há-de ser-me útil.
Virginia Woolf, As Ondas
27 maio, 2017
26 maio, 2017
24 maio, 2017
22 maio, 2017
21 maio, 2017
20 maio, 2017
19 maio, 2017
17 maio, 2017
16 maio, 2017
Pentti Holappa e Sabine Weiss
15 maio, 2017
13 maio, 2017
11 maio, 2017
10 maio, 2017
Andrea Büttner e Gregory Corso
Andrea Büttner, Ramp, 2015
POETAS PEDINDO BOLEIA NA AUTO-ESTRADA
Claro que tentei dizer-lhe
mas ele virou a cara
_____sem uma desculpa.
Disse-lhe que o céu persegue
_____o sol
E ele sorriu e disse:
_____«Para que serve isso.»
Eu sentia-me como um demónio
_____de novo
Por isso disse: «Mas o oceano persegue
_____os peixes.»
Desta vez riu-se
_____e disse: «Suponho que
__________os morangos foram
_______________empurrados para uma montanha.»
Depois disso vi que a
_____guerra estava declarada...
Então lutámos:
Ele disse: «A carroça das maçãs como um
____________________anjo numa vassoura
_______________racha & lasca
____________________velhos tamancos holandeses.»
Eu disse: «O relâmpago vai cair no velho carvalho
_______________e libertar os fumos!»
Ele disse: «Rua louca sem nome.»
Eu disse: «Assassino careca! Assassino careca! Assassino careca!»
Ele disse, perdendo mesmo a cabeça,
__________«Fogões! Gasolina! Divã!»
Eu disse, sorrindo apenas:
__________«Sei que Deus voltaria a cabeça
__________se me sentasse calado e pensasse.»
Acabámos por evaporar-nos,
_____odiando o ar!
Gregory Corso em Antologia da Novíssima Poesia Norte Americana (selecção, tradução, prefácio e notas de Manuel de Seabra, 1973)
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